quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Dói mais não saber, sabia?


Recorramos a metáforas: Temos um elástico. Daqueles que prendem papel. Agora pegamos o elástico com as duas mãos, e começamos a alongá-lo, devagar. Passamos, então, a puxar um pouco mais. E mais. Olhamos com desconfiança, afinal, uma hora aquilo vai ter que parar. Vai ter que chegar ao máximo possível. Esticamos o elástico até seu limite físico. Não dá mais. Então, soltamos o elástico de uma das mãos. Ele, rapidamente, se encolhe e estala na outra mão, que continuava a segurá-lo. Dói. Arde. E pensamos: que idéia idiota! Será que não poderíamos adivinhar que ia doer assim? Pra que brincar dessa forma com esse elástico? É lógico que ia dar errado.

Agora imaginemos esse elástico dentro de nós. Nossas emoções, por assim dizer. E esticamos nossas emoções ao máximo. Podemos até pensar, enquanto o fazemos, que isso não pode acabar bem. Uma hora esse elástico vai estourar, ou vai voltar com tudo pra cima de nós. Mas continuamos a esticar nossas emoções o máximo possível, enquanto pudermos. Porém, há algum tipo de equilíbrio perfeito no universo, e uma hora nossas emoções, por mais elásticas que sejam, vão estourar. E vai doer, vai arder por dentro, e vamos nos perguntar por que alongamos tanto aquele sentimento, por que fomos até o nosso limite. Enquanto dói, é difícil uma resposta aceitável. É quase irritante o argumento de que aprendemos com a dor. Quem quer aprendizado, quando o coração está sangrando? Por que temos que passar por tanta coisa? Que aprendizado é esse que nos levaria, supostamente, a algum tipo de conhecimento superior? Afinal, precisamos mesmo não ouvir de volta a declaração de amor feita do fundo do coração para saber que o outro não nos ama? Será que não podemos perceber isso com alguns gestos, e precisamos chegar a situações quase humilhantes para aprendermos? Será que precisamos ver o ser amado acompanhado por outrem, trocando carinhos e promessas, para entendermos que não somos desejados? Precisamos sofrer nas mãos de alguém para descobrirmos que algumas pessoas, simplesmente, não se importam?

Perguntas, perguntas... Tantas indagações carentes de respostas, mas que se resumem, todas, a um único intuito: ao sabê-las, afastaríamos a dor. Evitaríamos a ardência, a mágoa, a desventura.

A dor, porém, é necessária. Ela é humana, faz parte de nossa constituição tanto quanto água ou carbono. A dor é um alerta que nos avisa que há algo errado, pois o normal é não doer. Logo, se o amor dói, ele está errado. Amor não é pra doer. A dor é, também, um indício de que sentimos alguma coisa. Não estamos – ainda – anestesiados, inertes, imóveis diante de tanto sofrimento, de tantos corações partidos que encontramos por aí. Será que, para reconhecermos o amor que não dói, precisamos, necessariamente, passar por aquele que machuca? Será preciso a total entrega, a abnegada doação, a generosa oferta de nós mesmos a um nada sem valor para, só depois, só quando a tristeza e a raiva arderem dentro de nós, descobrirmos que é preciso mais maturidade, seleção, paciência? Será preciso esticar o elástico ao máximo para saber que ele vai nos ferir quando chegar ao seu limite?

Depois que o elástico nos machuca, depois que dói, descobrimos que, em algum momento, vai parar de doer. A ferida vai cicatrizar, o sofrimento vai ter um fim. Talvez fique uma cicatriz, mas esta, também, vai deixar de doer. E não viveremos com a impressão de jamais saber como seria esticar aquele elástico, fazer aquela declaração. Não conviveremos com a dúvida da retribuição do carinho, sem saber o que acontece quando distendemos nossos sentimentos até seus limites físicos e extra-corpóreos. Não há nada de errado em doer. O errado é a persistência da dor. E ela só vai persistir se a alimentarmos, se não cuidarmos dela. Assim aprendemos, também, a fazer a dor passar. Porque dói menos tentar fazer parar de doer. Dói mais, muito mais, não saber.

domingo, 1 de agosto de 2010

Sem rótulos.

Antes dos dezoito anos todos cobiçam alcançar essa idade, com a doce ilusão de toda liberdade conquistada com a maioridade. Depois dos quarenta, o discurso mais ouvido é sobre a saudade que a juventude deixou. Com os poetas românticos altamente saudosistas, descobrimos uma tendência do ser humano de olhar para o passado como se fosse melhor do que o presente e depositar no futuro todas as esperanças para uma vida melhor. Poucos percebem, porém, que ao desvalorizar o momento presente em detrimento de uma idolatria ou idealização de outra época qualquer se está, na verdade, perdendo tempo produtivo de vida. Cabe analisarmos os fatores, principalmente externos, responsáveis por tal fato.

Primeiramente, é importante perceber a evidente contradição existente na atualidade. Vive-se em uma sociedade extremamente hedonista que preza o prazer imediato a qualquer custo, vide o envolvimento de jovens com drogas, por exemplo, o que prova que há uma sede por aproveitar o momento. Porém, esse valor árcade do Carpe Diem vai de encontro com uma violência cada vez maior nas grandes cidades, o que serve de argumento para aqueles mais velhos, que costumam lembrar como nas suas juventudes tudo era mais fácil e mais seguro, logo, aproveitavam mais. Aliado a isso, as grandes revoluções tecnológicas e na medicina diariamente prometem e cumprem verdadeiros milagres, criando uma grande expectativa de um futuro melhor. Percebe-se, assim, que as pessoas nunca estão satisfeitas com o momento presente.

Além disso, cabe concedermos à mídia seu papel em tal problemática. Percebemos que os meios de comunicação em massa costumam dar um valor exacerbado à juventude, glorificando esta como a melhor fase da vida. Vende-se a idéia de que, quando jovem, somos mais capazes, saudáveis, bonitos e podemos revolucionar o mundo. Conseqüentemente, as pessoas acabam pensando que essa é a melhor fase da vida, e dão uma ênfase somente à juventude, como se a infância fosse apenas uma fase antecedente que deve logo terminar, e a velhice, a decadência da vida. Poucos percebem que cada etapa possui sua importância e beleza individuais.

Não se pode esquecer, ainda, que vivemos em uma sociedade capitalista, que confere à posses e status a maior importância possível. Em busca sempre da maximização dos lucros, há uma necessidade enraizada nessa mesma de inferir rótulos a tudo. A partir disso, temos o que é pior ou melhor, mais bonito e mais feio, mais válido ou menos válido, e isso vai desde objetos e posses materiais até o que é mais subjetivo e por vezes etéreo, como caráter, dignidade e, logicamente, fases da vida. Assim, passamos mais tempo tentando definir a melhor delas, enumerando as qualidades e defeitos de cada uma, do que de fato tentando aproveitá-las.

Dessa forma, nada mais justo afirmar que a humanidade, especialmente no contexto vigente, está deixando a vida escorrer em suas mãos sem perceber. O ser humano tende a não refletir sobre o seu presente, valorizando o passado e idealizando o futuro. Porém, seria ignorante e ineficaz comparar a inocência de Narizinho, o crescimento de Capitu e o conhecimento de dona Benta. Melhor do que isso é viver o agora, para que, ao olhar o passado não haja remorso ou vontade de retorno, e sim a saudade de uma fase boa. De todas elas.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Mutualismo

São várias as opiniões sobre o papel que devem exercer, assim como são comuns as críticas aos abusos que muitos cometem quando o assunto é meios de comunicação. Há séculos, livros ainda era escritos à mão e, por isso, muito raros e desejados. Passando pela grande invenção de Gutenberg, a imprensa, até os dias atuais, o culto à informação só tem crescido. É tamanha a ânsia por ver e saber que muitas pessoas perdem a noção do que é realmente necessário, deixando-se levar por interesses maiores daqueles que vivem para informar, ou em alguns momentos transformar, mentes vulneráveis. Excessos devem ser controlados, sem nunca comprometer a liberdade de informação.

A maior parte dos meios de comunicação em massa é controlada por empresas privadas. É, por esse motivo, vinculado somente o que atende os interesses individuais de seus proprietários. Tais empresários visam o lucro, e por isso não hesitam em exibir cenas fortes e violentas em horários que crianças estão acordadas, ou apelar para qualquer assunto que atraia espectadores. Assim, o Estado deveria criar um órgão eficiente que acompanhasse todos os passos da imprensa brasileira. Para evitar que seja o retorno da DIP e com isso a instituição da censura, pode-se, então, apoiar organizações não governamentais, como o Observatório da Imprensa, que já realiza esse trabalho para o bem da sociedade.

Esta, por sua vez, também possui o seu papel no combate ao abuso dos meios. Pesquisas afirmam que temas como sexo e violência atraem a atenção do público, tanto que já há até uma banalização desses assuntos. As pessoas já acham normal ver estampado nos jornais o número de mortos na última guerra do tráfico, ou que um programa de TV tenha como fundamento invadir a privacidade de um grupo de pessoas e filmar suas vidas ininterruptamente, transformando o voyerismo e o crime em assuntos comuns e rotineiros. Cabe a todo cidadão discernir entre o que acrescenta e o que é meramente apelativo.Se cada um não der mais credibilidade aos assuntos inadequados e inúteis, certamente estes deixarão de ser vinculados, já que não mais serão lucrativos. A liberdade estará garantida, bem como o patrimônio moral de todos.

As universidades também possuem um papel vital nessa preservação. Elas devem instruir melhor os alunos de carreiras como jornalismo e publicidade sobre o verdadeiro papel de um profissional da imprensa. É certo que o mesmo deve retratar a realidade, e esta é muitas vezes de violência, corrupção e escândalos. Entretanto, com a educação correta ele possuirá consciência de como os assuntos devem ser passados, sem recorrer á banalização ou à sede pelo capital. O homem é facilmente corrompido pelo dinheiro, sendo de fato difícil negar quando as condições para o enriquecimento, ascensão profissional e até a fama são favoráveis, mesmo colocando em xeque a ética. Todavia, é muito mais provável o bom senso e a moral prevalecerem com a instrução correta.

Dessa maneira, pode-se perceber que, assim como na Biologia, em que o mutualismo é a relação harmônica em que um necessita do outro para sobreviver, é necessária uma mobilização de todas as partes para o combate ao abuso dos meios de comunicação. Isso, é claro, preservando sempre a liberdade de expressão. Além disso, é indiscutível que se faz coerente uma reciclagem em todos os setores da comunicação voltada para as massas, para que se possa alcançar não só a preservação, mas a valorização dos princípios fundamentais da ética. Gutenberg, e toda a humanidade, agradecem.

terça-feira, 27 de julho de 2010

O tempo é nada.

Dizem que o tempo cura tudo. Falácia dos tempos, doce ilusão dos corações esperançosos por uma rendição, ingênua certeza no poder dos dias. O tempo não cura nada, ele somente mascara um sentimento que se cansa sozinho de existir. Os dias passam, os meses passam, até os anos passam, e novas preocupações e problemas surgem pelo caminho, tomando lugar de outros, já velhos conhecidos. É como uma ferida. Com o tempo, nos acostumamos e ela para de doer momentaneamente. Por vezes até mesmo esquecemos de que ela estava ali. Mas se batemos aquele local ferido em algum lugar, se derramamos sem querer algo nele, ele volta a doer. E aquela dor vem com tudo, nos lembrando de como ela era antes. Assim como o tempo não cura, são também falaciosas aquelas teorias populares que afirmam que, para curar uma paixão, só mesmo outra paixão. Ou que um novo corte de cabelo é capaz de superar desilusões, como se elas fossem embora junto com as madeixas. Ou até mesmo que um bom porre ou uma enorme panela de brigadeiro podem curar dor de cotovelo. Elas nada fazem além de engordar. Se um dia você se machucou, ou se alguém te machucou, pode estar certo de que você pode até superar este confronto, amenizar essa situação quando outras tantas mágoas aparecerem, e viver bem – com sorte, muito bem – com isso. Mas curar-se totalmente, não dá. Como um vírus da gripe que nunca deixa de sair do seu organismo, e em qualquer recaída da sua saúde ele ataca novamente. Não é uma questão de perdão, mas de boa memória. Viva com as suas mágoas e suas dores, tente encará-las como cicatrizes ou até mesmo belas tatuagens que preenchem o seu corpo e contam a sua história, afinal elas são, também, parte da sua vida, e te fazem quem você é. Acima de tudo, faça o seu melhor para não machucar ninguém, pois como você, aquela pessoa também terá que conviver com isso para sempre. Porém, não se iluda, não se engane e não se prenda à esperança de que o tempo vai, por si só, fazer desaparecer tudo aquilo que te corrói hoje. Mas não se desespere! Não se prenda em uma bolha, não desista de interagir com pessoas, não tenha medo de paixões e loucuras. A dor é física e pode ser boa. Ela é evidência, enfim, de que ainda sentimos alguma coisa.

Foco (?)

É errado policiais liberarem os atropeladores do Rafael Mascarenhas sem levá-los para a delegacia? Sim. É errado policiais cobrarem propina para liberá-los? Sim. Esses policiais devem ser punidos? Sim.
Estas respostas são óbvias, não há discussão sobre isso. Porém, mais errado do que tudo isso está o foco que vem sendo dado ao atropelamento. Policiais corruptos tem que ser punidos administrativamente, e isso já está sendo investigado. Se cobraram mil ou dez mil, não importa. Não tem que cobrar nem um real. Até aí tudo bem.

O que surpreende é quase ninguem falar sobre o atropelador do jovem skatista. Tão errado quanto cobrar propina é pagá-la. Parece que a mídia perdeu o foco da questão, e está discutindo assuntos que não são o principal: o outro Rafael é um jovem irresponsável, com histórico de infrações no trânsito, que estava realizando uma prática proibida em um lugar proibido, e matou alguem. E não prestou socorro. E fugiu. E pagou propina pra se livrar. E levou o carro na oficina naquela mesma noite, pedindo "urgência" no conserto. E só voltou atrás quando descobriu que sua vítima era filho de famosa, então, provavelmente, não ia ficar por isso mesmo. Ninguem fala sobre ele? Sobre como ele vai pagar pelo que fez? Que pena ele vai cumprir? Se Rafael Mascarenhas não tinha que estar andando de skate com seus amigos em um túnel fechado para a manutenção é uma outra história. Também não é o foco da discussão. Pelo menos, não deveria ser. Mas, ao que tudo indica, tem muita gente fugindo do assunto principal, porque ele é bem mais difícil e doloroso de se discutir. A vítima é a vítima, e ponto.

O que aconteceu foi homicídio. E as pessoas estão discutindo o valor pago na propina, quem cobrou, quem ofereceu. O foco principal se perdeu. Em ano de eleição, isso deve significar alguma coisa.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Quase-Manifesto.

Há muitos anos as mulheres lutam pelos seus direitos, e vêm conseguindo inegáveis avanços. Para que, hoje, possamos votar, trabalhar e usar calças jeans, muito sutiã teve que ser queimado em praça pública. Hoje, no auge de nossas independências, somos diretoras de grandes empresas multinacionais, engenheiras renomadas, grandes cirurgiãs, artistas, e ainda somos mães, esposas e, é claro, estamos sempre belas, depiladas e com os cabelos hidratados. Somos as donas das nossas próprias quitandas, pagamos nossas contas de luz e do salão de beleza. Não temos que dar satisfações a ninguem, somos inteligentes, cultas, e ainda sabemos escolher a cor do esmalte. Sim, somos as tais. Somos o que há de contemporâneo, de avançado, super heroínas do dia a dia que se desdobram em mil para atender às nossas próprias exîgências, e as da sociedade. Ninguem quer, afinal, menosprezar tanta luta, tanto sacrifício, tanto tempo querendo provar que podemos ser o que bem entendermos. Sou mulher. Se quiser sair, eu saio; coloco um salto alto, um decotão e vou pra balada, ninguem pode comigo. Se quiser ficar em casa, de moletom assistindo TV com meu cachorro, eu fico tambem, ninguem tem nada com isso. Posso, inclusive, me dar o luxo de comer uma caixa inteira de trufas de chocolate assistindo um filme, porque depois quem vai pagar a conta do spa sou eu. E isso SE eu quiser ir pro spa, porque se eu bem entender que quero uma bunda cheia de celulite, parecendo mais um queijo suíço, também é problema meu. Não preciso de nenhum homem pra me dizer como devo ou não devo ser.

Ah, sim. Os homens. Eles existem, ainda, em nossas vidas. Mas hoje temos uma relação diferente com eles. Eles não são mais nossos donos, senhores de nosso destino. Alguns são nossos brinquedinhos, nossos play grounds. Sexo casual, one night stand, e daí? O problema é meu, muita mulher lá atrás teve que provar sua sexualidade para que, hoje, eu possa fazer da minha o que eu bem entender. Aliás, se eu quiser perpetuar a minha espécie e fazer uma miniatura de mim mesma, nem preciso me relacionar com um homem. Posso ir a um banco de esperma, pagar uma quantia que, sim, é cara, mas o dinheiro é meu, e pronto. Em nove meses, serei mais uma adepta da maternidade, sem precisar passar por toda aquela chatice encontros e relacionamentos. Somos tão donas de nossos narizes bem cuidados com seções de limpeza de pele mensais que podemos, inclusive, optar pelo caminho contrário. Se quisermos ser donas de casa que cozinham para seus maridinhos, mães superprotetoras que correm do supermercado para o colégio dos filhos para o balé da filha para o futebol do filho para o inglês das crianças e...ufa! Ainda tem que ir no banco pagar as contas. E controlar as despesas de casa. E garantir a harmonia do lar. E ter certeza de que os filhos estão sendo bem educados e o marido está feliz. Não é mole não.

Somos as rainhas da cocada preta. E sabe o que é triste? Na grande maioria das vezes, isso é somente aos nossos olhos. Valorizamos cada conquista, cada meio centímetro percorrido a caminho da independência porque ela é nossa. Mas para os homens, para muitos deles, ainda somos, somente, mulheres. Seres difíceis de se entender. Ferozes quando estão na TPM, essa época do mês que eles, simplesmente, não entendem o caos interno que os hormônios enlouquecidos provocam. Se optamos por cuidar da casa, somos submissas e temos que responder a eles. Se colocamos a carreira em primeiro lugar, somos frígidas sem coração. Eles podem priorizar a carreira. É coisa de macho ganhar dinheiro. Nós não. Se damos no primeiro encontro, somos fáceis demais, indignas de uma ligação no dia seguinte. Se nos resguardamos, estamos nos fazendo de difíceis. Sexo é coisa de macho. Mulher não goza. Se queremos curtir a vida sem compromissos, somos vadias sem noção que só pensam em baladas. Se queremos namorar, somos neuróticas que só pensam em casamento. Temos que lembrar de tomar a pílula anticoncepcional todos os dias, religiosamente no mesmo horário. Afinal, se ficarmos grávidas numa relação casual, a culpa é nossa, que não nos cuidamos, que queremos dar o golpe da barriga. Somos aquelas que geram a vida, que dão à luz, que fazem crescer um outro ser. Mas isso não é mágico, não é bonito. Isso é obrigação. Mulher que não é mãe não é uma mulher completa. Ainda apanhamos, é verdade. Literalmente ou não. Muitas de nós morrem todos os dias, fruto da violência doméstica, da mão pesada daquele parceiro que escolhemos para amar. Morremos tambem de pouquinho em pouquinho com agressões verbais, descasos, desinteresses. Não é mole, não.

Quem por nós? Nós mesmas. Quem contra nós? Todo resto. Feminismo já é chato, vitimização mais ainda. Sutiãs não precisam mais ser queimados. A sexualidade não precisa mais ser conquistada. Os direitos a trabalhar e a votar, tambem não. Isso tudo já foi alcançado. Acima de tudo, conquistamos o livre-arbítrio. Escolhemos nossas escolhas. Pelo que lutar agora?

Lutemos pela dignidade reconquistada. Pela coragem de nos queixarmos dos maus tratos. Pelo fim do massacre do que nos resta de mais precioso: nosso feminino, nosso lado fêmea que quer gritar, que quer justiça para aquelas de nós que perdem a vida em represas, em sítios, em qualquer esquina desse país. Quanto tempo mais ficaremos esperando? Não proponho feminismo. Não proponho nenhum tipo de superioridade. Proponho denúncia, atenção e ajuda mútua. Igualdade. Gênero é muito mais do que sexo. É atitude.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Vamos falar de amor?


Hoje completam 30 anos que ficamos sem Vinicius de Moraes. Sem suas letras, sem sua delicadeza. Em tempos de guerras, de psicopatas, de tanta feiura como a que vivemos, as palavras de Vinícius são como uma respiração aliviada de quem há tanto sentia-se sufocado. Precisamos disso, como do próprio ar. Permitam-se breves momentos de beleza, caros leitores, e fujam um pouco de toda a loucura do mundo.

Tomara
Que você volte depressa
Que você não se despeça
Nunca mais do meu carinho
E chore, se arrependa
E pense muito
Que é melhor se sofrer junto
Que viver feliz sozinho

Tomara
Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz

E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais...

A polêmica da palavra.



A palavra tem poder. Esse clichê todos conhecem, e poucos discordam. O povo não perde tempo, e inebriado pelo frenesi da queda de mais um gigante, o mesmo que o próprio povo colocou num altar, chamou de melhor do Brasil. O mesmo que antes chamavam de "campeão", agora chamam de "assassino". Eu chamaria de "burro", mas tudo bem. E o povo, não acostumado a barbáries mesmo quando essas são estampadas quase diariamente nos jornais, se manifesta. É este o único assunto em mesas de bares, filas de supermercado, na televisão, no twitter. E, aparentemente, no muro da casa onde a carnificina foi executada, lá nas Gerais. Ainda que com erro de português, eles têm o que dizer. Vox Populi, Vox Dei. Ao que tudo indica.

Ainda sobre palavras: e a Lindsey Lohan que deu uma declaração dizendo que o "Fuck You" em suas unhas nada mais era do que montagem computadorizada de algum fotógrafo mal intencionado. E eu que até tinha achado ela ousada...Que decepção.

ps: voltei com os "Comentários" aqui no blog. Que eu não me arrependa.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Limites.



Não vou comentar sobre o caso Eliza Samudio aqui. Por motivos vários: a imprensa em geral já está amplamente noticiando o caso, não precisa ser este mais um meio de informação. Mas principalmente porque a meia dúzia de pessoas que lêem esse blog já perceberam que, aqui, todo e qualquer assunto engrena pro lado do humor. E sobre certas tragédias não se pode fazer humor. Nem o melhor dos humoristas conseguiria nesse caso. Arquitetar para matar uma pessoa, seja ela quem for (é um pouco pior quando se tem um filho com esta pessoa, mas vá lá.), mandar matar, esquartejar, desossar, dar a carne para cachorros comerem...É de uma crueldade tamanha que, simplesmente, não há muito mais o que dizer. Palavras faltam, pois mais uma vez o limite da maldade humana foi ultrapassado. Durante um tempo, achamos que ninguem poderia ser mais cruel que Suzane von Richtoffen. Daí veio o casal Nardoni, e nos desmentiu. Quebramos a cara mais uma vez. Há limites para a piada. O caso de Eliza Samúdio não tem graça.

Mas como a bruxa está solta no mundo das celebridades, graça tem o caso Lindsey Lohan. A garotinha de Garotas Malvadas, que ficou muito mais famosa por causa dos seus problemas com a lei, finalmente foi presa. Depois de ser detida por dirigir alcoolizada, perder a carteira de motorista, ser obrigada a andar com uma tornozeleira rastreada pela polícia e, finalmente, ser proibida de ingerir qualquer gota de alcool, ela não conseguiu. Mas não condenemos a pobre coitada, ela tinha compromissos. Quem aqui nunca teve que faltar um julgamento para curtir o Festival de Cannes que atire a primeira pedra! O que ela poderia fazer, se algumas festas são regadas a alcool e drogas? E daí que ela tirou uma foto ao lado de uma carreira de cocaína? Esse pessoal não entende nada mesmo...

Mrs Lohan violou a condicional, e desta vez não teve segunda chance. Mas não se fez de rogada, e apareceu por lá com a inscrição "Fuck You" em uma das unhas. Vai virar tendência na moda, isso é fato. E é triste. No mundo em que vivemos, ou tiramos sarro de tragédias, ou ficamos obcecados com barbaridades, ou devoramos histórias de assassinos modernos que arquitetam crimes muito além da nossa compreensão ou da criatividade de qualquer novelista, ou seguimos o exemplo de celebridades que são famosas simplesmente por serem famosas, e não porque têm, efetivamente, algo a oferecer. Consumimos essas informações sem o menor filtro moral. Mais do que nos informarmos, temos sede de desgraça. Na vida dos outros, é claro. A culpa é nossa, que não damos limites ao que consumimos e ao que valorizamos. A culpa é nossa, por não termos limites.

domingo, 4 de julho de 2010



No seu programa de hoje, Faustão criticou o presidente da CBF, por colocar uma pessoa "totalmente sem experiência" no comando da Seleção Brasileira de Futebol. Até aí tudo bem. Se Dunga nunca nem mesmo treinou a seleção junior do bairro dele, segurar a seleção é pesado. É aquele cara que aprendeu a nadar ontem e, hoje, já achou tinha cacife pra enfrentar o mar. Mas o ponto alto da crítica foi quando Faustão chamou Dunga de arrogante, dizendo que esta é a arma dos incompetentes e inseguros. Mais um acerto pro dono das tardes de domingo que, dado seu figurino, pode-se dizer que ele é, seguramente, o rei da confiança.

O bom filho à casa torna.



Woody Allen é daqueles cineastas que foram picados pelo bichinho que, pessoalmente, gosto de chamar de "stick to it". No caso de Allen, o bichinho é a cidade de Nova York. Desde o início de sua carreira, ambientou seus dilemas, conflitos sociais, surtos hipocondríacos e descrenças na cidade que nunca dorme, camuflados em personagens que não são muito mais do que o próprio cineasta, e a vida que ele gostaria de ter. Não que Nova York não seja suficientemente inspiradora. Aliás, é um dos poucos cenários no mundo que não cansam. Entretanto, o mais do mesmo cansa. Ainda que esse "mesmo" seja genial.

Decidido a tirar férias da sua América, Woody Allen foi pra Europa e revitalizou sua carreira. Fez dois filmes excelentes, dos melhores de sua vasta carreira. Match Point, em Londres, e Vicky Cristina Barcelona, na cidade-título, este último absolutamente fantástico, impecável, e que rendeu o Oscar à estupenda Penelope Cruz. Mas Allen sentiu saudades de casa, da selva de concreto onde os sonhos são feitos, e com "Tudo Pode Dar Certo" (Whatever Works, de Woody Allen, EUA 2009), voltou às suas origens.

O forte dos filmes de Woody sempre foram os diálogos, e neste caso não é diferente. Ele continua cáustico, hipocondríaco, sarcástico, pouco gentil, descrente, despretencioso e metido a inteligente, sendo que desta vez teve a relevante sacada de não se colocar como personagem principal. É bastante óbvio que o protagonista, Boris, é a personificação do cineasta na tela, mas ao que tudo indica, ele percebeu que não é um bom ator muito além dele mesmo, e escalou o célebre Larry David para viver o Woody da vez. Como sua direção continua não sendo das mais criativas, ele compensa no trato com os atores, que novamente parecem naturais e deliciosamente problemáticos, com uma boa performance especialmente de Evan Rachel Wood. Ela mesma, a menininha de "Aos Treze".

Se a direção de atores e os inteligentes e ágeis diálogos já são marcas registradas de Woody Allen, em Whatever Works ele resolveu inovar em sua própria estética e usar o recurso da "quebra da quarta parede", no jargão audiovisual, quando o ator fala com a câmera. Larry David "dialoga" com os espectadores, até mesmo quando os amigos fictícios estranham. "Com quem você está falando, Boris?", eles perguntam. "Com eles, esse monte de gente que está nos assistindo.". "Não tem ninguem nos assistindo!". Então, Larry vira, mais uma vez, para a câmera e estabelece uma compreensão com aquele cara lá da última fileira que se perpetua por todo o filme. Só ele, personagem fílmico, entende que há uma platéia ali, disposta a ouvir uma estória. É um segredo nosso, do público com Boris. Tido como "gênio" no filme, assim ele se estabelece ao demonstrar que entende mais da vida do que os demais personagens, inclusive enxergando o fato de que há espectadores logo ali. É a metonímia do próprio cineasta que, embora constantemente perspicaz, sempre acredita ter um entendimento cinematográfico muito maior do que as meras cabecinhas artísticas da culturalmente vazia América do Norte.


(Tudo Pode Dar Certo está nos cinemas no Rio de Janeiro)

sábado, 3 de julho de 2010

Adios, hermanos!

Senhores, eis imagens marcantes dos últimos dois dias na Copa da Fifa:





Verdade seja dita: ver a Argentina perder é bom. Vê-la ser humilhada é ainda melhor. Não só é possível, como bem provável que tais sentimentos se dêem por alguma forma de recalque brasileira.Imaturidade, bobagem, eu sei. Mas no futebol, eles são mais do que adversários. São inimigos. E a recíproca é verdadeira. As capas dos jornais dos hermanos de hoje estampavam fotos do Kaka aos prantos no fim do jogo de ontem, que nos rendeu uma sofrida eliminação. Dói ainda. E como dói... Mas dói menos vendo Don Diego caindo de 4, perdendo-se nos dribles germânicos, vendo seu queridinho Messi, com seu cabelo em corte cuia e sua altura modesta, correndo no campo como um menininho que se perdeu da mamãe no shopping. Tanto ele como nosso querido técnico tiveram que engolir suas petulâncias caladinhos, caladinhos... É, Maradonna... parece que nos livramos de vê-lo peladão por aí. Voltem para casa no ritmo do tango. E podem até pegar uma carona, nosso avião deve estar saindo daqui a pouco. Mas voltem calados, em sinal de respeito, por favor. Porque, até para perder, nós somos muito melhores.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Já ERA, Dunga.


A era Dunga acabou. Assim esperam 190 milhões de corações zangados, indignados, chateados, e outras palavras não publicáveis. A Seleção brasileira, perdendo de virada para a Holanda, postergou o sonho do Hexa por mais, pelo menos, quatro anos. Da Copa na África ficou um grito engasgado, um choro de raiva contido, e uma torcida para que o Maradona não corra pelado.

É sempre chato perder uma Copa. Para brasileiros, é quase uma vergonha. Afora as tais belezas naturais, é talvez a única coisa palpável com a qual podemos nos gabar. Tiramos onda no mundo inteiro como o país da bola, os melhores, os únicos que carregam cinco estrelas no peito. Passada a ressaca da derrota, há reações que nenhum brasileiro pode ter a petulância de dizer sentir: incredulidade. Afinal, se ninguem gostava da seleção do Dunga, como esperar que fôssemos campeões?

Patriotismos temporários a parte, esse time não inspirava confiança em ninguém. E isso simplesmente porque não era a seleção brasileira, era a seleção do Dunga, que sempre chamou a responsabilidade para si das vitórias, mas na hora da derrota saiu de campo sem nem mesmo cumprimentar seus jogadores. Papelão, papelão...

Agora os meninos voltam para suas mansões com a derrota amarga nas costas. E o brasileiro, daqui a pouco, vai esquecer esse dia. A continuação do campeonato brasileiro vem aí pra separar os 190 milhões de torcedores em diversos times, camisas, torcidas. Viremos, novamente, todos inimigos dentro de campo, mas sejamos unidos e patriotas o suficiente em outubro, nas eleições. Porque os próximos quatro anos não serão o intervalo entre uma Copa e outra, mas a esperança para novos tempos no Brasil.

Parabéns aos jogadores raçudos que merecem os parabéns, todo mundo sabe quem são eles. E um puxão de orelha nos pseudo-atletas para os quais não fez tanta diferença assim envergonhar aquele brasileiro que, com dificuldade, doendo no bolso, comprou bandeirinhas, camisetas, enfeitou a casa e comprou a carne pro churrasco, a não ser o machucado em seu próprio ego milionário. Queremos uma seleção que honre a camisa, que nos dê orgulho, que nos faça voltar a acreditar que somos, sim, os melhores. Além disso, queremos um técnico com experiência em comandar times, que dê ouvidos, também, aos clamores populares, que respeite a imprensa, que se dê o respeito. Eles, os jogadores e o Dunga, continuarão cheios da grana, e nós continuaremos de saco cheio.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

A Saga Continua. Infelizmente.



É fácil entender por que a saga Crepúsculo virou uma febre mundial. Uma combinação muito precisa de fatores garantiu o sucesso: o desconhecido - um mundo onde criaturas fantásticas vivem clandestinamente, ao lado de seres humanos - o amor proibido, irresistível, arrebatador. De um lado, o lindo vampiro Edward, todo bom moço, nem sangue de gente ele bebe. É inteligente, educado, absurdamente bonito. E apaixonado. Do outro lado, Jacob, o lobisomem camarada. Ele é quente - muito quente - carinhoso, fiel, protetor, melhor amigo. E apaixonado. E no meio de tudo isso está o objeto de desejo de ambos: Bella. E Bella não é exatamente um poço de beleza, virtudes e qualidades inenarráveis, que faria com que seres quase humanos tão incríveis fossem capazes de renegarem e lutarem contra suas próprias existências por ela. Bella é the girl next door, aquela menina comum, que passaria despercebida em qualquer ambiente. E este é o grande atrativo: uma menina comum, uma menina qualquer, consegue fazer vampiros, lobisomens e homens cairem aos seus pés (ah sim, porque o coleguinha da escola também é super na dela.). Todas as leitoras se enxergam na pele de Bella. Vivem com ela esse amor arrebatador e errado com Edward. Se dividem entre amizade e paixão com Jacob. Jovens ou mais velhas, todas queremos ser Bella.

Os filmes da saga também são incrivelmente bem sucedidos por motivos muito específicos. Como resistir a uma alcatéia de belos corpos sarados e parcialmente despidos, exalando calor e conforto? Ou ainda, como não se sentir atraído por uma bela família de atores cuidadosamente maquiados para que sua brancura vampiresca seja encantadora, e não repulsiva? São belos rostos, belas lentes castanho-claras, bem vestidos e simpáticos. Você quase esquece que eles são mortos-vivos que podem, a qualquer momento, esquecer o "vegetarianismo" e atacar seu pescoço. Você quer quase socializar com eles. Frequentar a casa deles. Mergulhar e acreditar naquela história. Junte a isso efeitos especiais de primeira categoria, que proporcionam cenas de lutas de tirar o fôlego e lobos tão bem feitos que parecem saltar da tela pro seu colo na poltrona, além, é claro, da publicidade sufocante que só Hollywood sabe fazer, e pronto: você tem mais um grande sucesso de bilheteria, garantido por fãs que contam minutos, riscam os dias no calendário e esperam, ansiosas, aos berros e choros, pela materialização na tela grande dos ídolos que encontraram nos livros.

E eis o grande problema. Um erro fácil de se cair em adaptações literárias para o cinema, especialmente de incontestáveis best-sellers mundiais. Uma fórmula tão simples, que pega até os mais experientes produtores americanos: filme é filme, livro é livro. Um filme não pode ser feito somente para leitores ávidos e fãs neuróticos. Eles se bastam nos livros. O filme é uma extensão, um apêndice, um algo mais. E está nas salas de cinema para que qualquer espectador o assista, não só os fãs. Para isso, é preciso muito mais do que os atores bonitinhos, efeitos especiais bem executados e falas diretamente tiradas das páginas de papel: é preciso que prenda o espectador sendo um bom filme. Bom, cinematograficamente. E isso "Eclipse" não é.

"Eclipse" (The Twilight Saga: Eclipse, de David Slade, EUA 2010) é baseado no terceiro livro da saga de Stephanie Meyer que conquistou o mundo. Traz os mesmos atores e a mesma fórmula dos dois antecedentes, embora com uma nova direção. Dessa vez, o maestro é o britânico David Slade, que não conseguiu uma magia parecida com a de Chris Weitz, o diretor de New Moon, o segundo filme, e muito menos de Catherine Hardwick, que estabeleceu o tom em Twilight, e nos fez querer mais. David Slade nos fez querer que parasse por aí. O roteiro de Melissa Rosenberg é fraco e arrastado, salvo por uma ou duas falas mais engraçadinhas. Ela também assina os dois primeiros roteiros, mas em Eclipse, perdeu o ponto. Ele não consegue captar a atenção do espectador alheio à saga. Pula de uma situação para outra sem que se saiba exatamente o motivo, esquecendo completamente a coesão necessária para que uma narrativa seja levada adiante, com entendimento daquele que a assiste. O filme conta, sim, com bons atores, que alcançam consistentes interpretações, apesar da superficialidade do roteiro: Billy Burke, Ashley Greene, Peter Facinelli, Elizabeth Reaser, além das sempre ótimas Dakota Fanning e Anna Kendrick. Bryce Dallas-Howard é uma Victoria, a sanguinária vampira que quer se vingar de Edward, melhor do que Rachelle Lefevre jamais foi. Por último, os protagonistas: Taylor Lautner está melhor do que nos dois primeiros filmes da saga. Parece que conseguiu construir um Jacob com mais conteúdo, relevância, que faz com que o espectador entenda o conflito da protagonista. Ele é interessante, muito além do tanquinho definido. Robert Pattinson é um grande ator que o mundo ainda vai descobrir. Para isso, precisa deixar Edward para trás, o que só acontecerá depois de Breaking Dawn, o quarto e último livro/filme. Robert não é somente dono de uma beleza exótica, diferente das demais belezas masculinas que vemos no cinema. Ele é um ator profundo, versátil, que comunica com um simples olhar, e consistente em relação a Edward.

David Slade optou por usar muitos planos fechados em Eclipse. Aprende-se em qualquer cursinho de cinema que close-ups aumentam a dramaticidade, e aqui são amplamente utilizados, o que é perfeitamente compreensível quando se trata de Robert, Taylor, Bryce, Dakota. Eles dão sentido ao close-up. Mas não funciona com Kristen Stewart. Kristen continua fraca e sem carisma. Se não contasse com o sucesso prévio da personagem dos livros, jamais encantaria como Bella Swan. Há momentos em que Kristen parece pensar em decolar, mas é engolida por presenças muito mais marcantes e talentosas que dividem a cena. Sua interpretação é presa, dura, sem vida. Assim como Robert, talvez Stewart se descubra uma grande atriz ao final da saga. Mas não será, como o colega, por talento nato. Ela precisará de muita técnica e muito estudo para permanecer na A-List de atores americanos quando Twilight não mais existir em sua vida.

Eclipse será um grande sucesso de bilheteria. Os ávidos fãs dos livros irão amar. Os simples leitores ficarão parcialmente entediados. E aqueles que nunca nem mesmo folhearam os livros sentirão vontade de ir embora. É quando a narrativa se perde, o fio condutor da história - e a razão de ser da mesma - deixa de existir, e o espectador passa a se prender a outras coisas na tela, desviando sua atenção para os já mencionados artifícios fílmicos hollywoodianos para grandes sucessos. Com isso, Eclipse pode até ser uma representação eficaz para os fãs do livro, mas jamais será um grande filme.

domingo, 13 de junho de 2010

A Mentira do Dia dos Namorados.

Tá tudo errado. Pra começar, o Valentine's Day, no mundo inteiro, é coerentemente no Dia de São Valentim, em fevereiro. Aqui, em terras tupiniquins, comemora-se dia 12 de Junho. Dizem as más línguas que isso ocorre porque, aqui, nesses tempos invernais, longe das datas festivas (como o nosso Carnaval, que é em fevereiro), as vendas caem, e por isso a data foi modificada, para dar uma aquecida da economia. Concordo que seria o máximo do baixo astral pra várias pessoas ter o dia dos Namorados tão perto do Carnaval, por motivos óbvios. Pessoalmente, nunca fui de me importar muito com o Dia dos Namorados, por uma questão de personalidade. Nem do Natal eu sou tão fã assim.

Mas esse ano, reparei em algo que me intrigou. O Twitter no sábado estava repleto de pessoas que iam comemorar a "Noite dos Solteiros". O lema era: O Dia é dos Namorados, mas a noite é dos solteiros. E várias meninas e meninos saíram do doce conforto quentinho de seus lares para jogarem-se na noite. Nada de anormal ou diferente de um sábado qualquer. A questão era a excitação exacerbada. Por que?

Desculpem-me, mas a verdade pode doer: Nada passa de uma animação mentirosa. Sem perceber, no frenesi de afirmar para si mesmos que está tudo bem, que se bastam, que a vida é bonita numa caminhada solitária, estavam todos comemorando não o fato de estarem solteiros, mas de estarem sozinhos. E ninguem, realmente, gosta de ficar sozinho. O mundo é enorme e minúsculo ao mesmo tempo, e em meio a tantos bilhões de pessoas, todos querem achar seu "special one". A tampa da panela. A metade da laranja. O açucar do brigadeiro. O clichê dos clichês. Porque entre tantas diferenças, somos iguais em uma característica: homens, mulheres, brancos, negros, pardos, heteros, gays, jovens, velhos... todos queremos ser amados. E se o Dia dos Namorados já foi concebido pela sociedade como uma data para se comemorar o fato de que amamos e temos alguem para amar, não se deveria celebrar o contrário. Há, sim, quem adore a vida de solteiro. Mas há uma grande diferença entre ser solteiro, e ser só. Se somos solteiros todos os dias, não há motivo evidente para que se comemore isso justamente no dia que a sociedade inteira escolheu para celebrar o fato de que somos amados, e amamos alguem. Paremos de mentir para nós mesmos e passemos a admitir que não há o que ser celebrado, além do evidente. Não há motivos para se envergonhar por estar sozinho no Dia dos Namorados, muito menos necessidade de mostrar para o mundo inteiro, esbravejar para quem quiser ouvir, que está tudo na mais perfeita ordem, e que você está super bem sem alguem do seu lado. Isso é um problema de cada um, e a vontade de afirmar isso para os outros só denuncia que, talvez, não seja algo tão verdadeiro assim.

Proponho, pois, que passemos a valorizar menos o Dia dos Namorados, tanto solteiros como comprometidos. O amor deve ser celebrado todos os dias, intensamente. Os que ainda não o encontraram, não devem jamais interromper sua busca. Não vale somente um dia para isso. É uma sorte imensa achar o amor verdadeiro, quase como ganhar na loteria, porém melhor. Não vem acompanhado de milhões em dinheiro, mas de uma certeza muito maior e mais valiosa: a de que você vai ter sempre alguem que te olhe como se você fosse a mais rara das pedras preciosas. Que seus braços vão sempre alcançar outros braços no lado oposto da cama. Que alguem gosta da sua cara amassada e de seu mau humor matinal, que atura seus defeitos, que aguenta suas manias e até ri delas...dizendo "ah, isso é tão típico dele(a)!". Que seus pés sempre serão aquecidos por outros pés. E que, ainda que perdido, você vai sempre achar, com muita gratidão, o caminho de casa.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Magia.

Dia desses vi um filme chamado "Broken English". Filmezinho B americano, não tem nem tradução em português. Ainda assim, muito bom. Zoe Cassavetes (sim, a filha do cara), roteirista e escritora, é um talento puro, prova de que a genética faz toda a diferença. Pena que não há muitos trabalhos dela por aí.

O Cinema assume seu intuito maior quando, nos primeiros minutos de uma despretenciosa narrativa, você enxerga uma completa identificação com o enredo, mergulha na estória e a suga, como se sua própria vida dependesse daquilo, como se aquele desfecho representasse o seu próprio futuro, quase uma sessão ficcional de cartomante. Neste caso específico, assim que me toquei dessa identificação, comecei a me preocupar. Nora, a personagem da talentosa Parker Posey, a rainha dos Indies, é uma mulher que possui uma perigosa característica: a incrível capacidade de atrair e/ou se apaixonar pelos homens errados. Aqueles tipos bem mesquinhos, que tão obviamente partirão seu coração. Ainda assim, o dedo podre de Nora insiste em apontar para o cara errado, ainda que o certo esteja bem ao lado do canalha. Ela se lamenta com a melhor amiga, pensa em desistir dos homens, da vida, do universo e de todo o resto. Sofre, chora, se angustia. Faz o que disse que não ia fazer, diz o que achava que não ia dizer. Bebe uma garrafa de vinho sozinha, fuma um maço inteiro de cigarros, e só não come um pote enorme de brigadeiro porque, certamente, não conhece esse doce. Parece similar essa história? Sim, para mim parece.

Se coincidências existem, na noite anterior eu tive uma longa conversa com uma boa amiga que, bem assim, na minha cara, lançou: "Eu acho mesmo é que você gosta de um bom desafio. O cara pra te ganhar tem que ter namorada, tem que morar longe, tem que não te dar moral...Sabe qual é a resposta pra isso? Terapia.". Pois é, mas terapia é caro. Minha alternativa pessoal? Escrever. E, quem sabe, tentar arrumar uma resposta para essa minha mania chata de querer as coisas mais difíceis. Verdade seja dita, não é que eu só me interesse por canalhas comprometidos ou príncipes de terras longínquas. Geralmente, eu só descubro depois que eles são comprometidos, ou me vejo envolvida demais para me importar com algumas centenas de quilômetros de distância. Mas, de alguma maneira, como um ímã estúpido, continuo atraída por esses tipos. Seria mais fácil culpar todos os homens do Universo, mas já passei da idade de acreditar nessa desculpa. Se o problema não está nos outros, está em mim. Talvez seja a necessidade inerente de provar para mim mesma que eu posso conseguir tudo o que eu quero, ainda que tantos obstáculos estejam no caminho. Talvez eu queira me torturar com um chicote imaginário, não enxergando que há um mundo de possibilidades muito mais fáceis bem ali, ao alcance de minhas mãos. Mas o fácil todo mundo tem. Ou medíocre todo mundo consegue. Na minha estupidez, vou levando. Recuso-me a ter que viver junto, simplesmente por não conseguir ficar só. Ou como diz uma personagem do filme: "A maioria das pessoas está com alguem só para não estarem sozinhas. Mas algumas pessoas querem magia. E eu acho que você é uma dessas pessoas.". Nora era, e eu sou.

Enquanto a magia não se personifica em alguem que valha a pena, continuo cruzando os dedos e contando que o meu final feliz seja como o de Nora. Que eu encontre o amor dia desses, num instante qualquer, por aí. Porque magia não precisa ser somente grandiloquentes feitos, serenatas apaixonadas debaixo da janela, beijos na chuva que param o trânsito de uma grande cidade. A magia tambem pode estar no mais simples. Numa fila de supermercado. Numa banca de jornal. No metrô. Na mesa do lado no bar. Num doce balanço à caminho do mar. O segredo é saber ver.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Em defesa do fútil.

Um museu em Nova York está fazendo uma exposição sobre moda. O que essa frase teria para intrigar qualquer pessoa? Nada demais, concordo. Mas me intrigou. Fiquei pensando naquilo e descobri um problema enorme por trás da minha própria estranheza. Depois, achei melhor nem ter pensado nada. É sempre vergonhoso quando descobrimos um sentimento chato por trás de uma impressão, aparentemente, inocente.

Museu, para mim, é um lugar quase sagrado. Aquelas paredes guardam obras de valores incontestáveis, inestimáveis, essenciais para contar a história da humanidade por meio da arte. Arte, tão cheia de importância pra mim, seja lá qual for sua forma de expressão. A arte que tanto valorizo e prezo, que tão acima está das coisas mundanas e banais. Do outro lado, está a moda. Talvez pelo meio onde obtive a maior parte da minha orientação intelectual, fui educada a achar a moda uma grande bobagem. Uma futilidade, coisa de quem não tem muito o que fazer. Afinal, o tempo que você fica escolhendo uma roupa, um sapato e uma bolsa que combinem, poderia estar sendo mais produtivamente utilizado, ou seja, você poderia estar criando uma grande obra que mudaria a maneira como as pessoas enxergam o mundo, o universo e todo o resto. Além disso, a tal "moda" nada mais é do que uma lista de mandamentos formulada por uma meia dúzia de pessoas - e, convenhamos, nenhuma delas mora nessa nossa terrinha - que dizem o que se "pode" e o que "não se pode" usar. Um dia, calça de cintura alta é a última tendência. Daqui a uma semana, pode não ser mais. E mais e mais pessoas compram itens com os preços nas alturas, que certamente não valem em seus processos de fabricação nem um terço do que por eles é cobrado, para usarem o que a galera mais cool do planeta tambem está usando. Só para serem aceitas, para pertencerem ao seleto grupo daqueles que podem dar oitocentos reais num par de jeans ou dois mil numa bolsa. No meio acadêmico daqueles que, como eu, estudam comunicação ou artes, e se acham, por isso, grandes formadores de opinião, os portadores de tantas respostas, a moda é um meio fútil de gastar tempo útil e, pior ainda, é uma ditadura quase religiosa e que, veladamente, junta um número cada vez maior de ovelhinhas desgarradas e cegas.

Sim, eu tinha essa opinião formada e muito forte. Mas depois que você fica um pouco mais velho e, portanto, mais exigente, passa a achar esses pré-conceitos muito chatos e, por si só, fúteis. Com tantas coisas maiores dignas de preocupação, o que é se preocupar com o que a Lindsey Lohan usa ou deixa de usar? E, afinal, qual é o grande problema da futilidade? Futilidade pode ser uma coisa boa, se bem dosada. Afinal, todo mundo precisa de breves momentos em que não é preciso ser absolutamente brilhante, ou estar trabalhando em algo realmente transformador. Homens e mulheres, há momentos em que tudo que precisamos é nos sentir bem, e a tal da moda surte esse efeito. Não a moda ditatorial, não o "ter que" ter isso ou aquilo. Mas todo mundo gosta de se sentir bonito, elegante, atraente. E essas mesmas pessoas que tanto criticam as outras que se preocupam com o que vão vestir, passam o mesmo tempo na frente do espelho tentando desconstruir uma imagem, digamos, mais aceita. E aí fazem tudo para chocar: usam cortes de cabelo diferentes, roupas esquisitas, combinações propositalmente conflitantes. Mal sabem elas que tambem estão seguindo mandamentos, só não são os mandamentos que saem na Vogue.

Hoje estou mais livre de preconceitos em relação à moda. Simplesmente porque entendi que, só porque ela existe, não quer dizer que eu precise segui-la piamente. Essa indústria que move bilhões todos os anos e envolve milhares de trabalhadores que passam, sim, horas enfurnados em escritórios pensando qual será o tom de verde da próxima estação, tem lá suas qualidades e méritos. Afinal, não podemos exatamente dizer que vivemos em uma sociedade que valoriza a beleza interior. Essa exposição de Nova York mostra, em um certo período de tempo determinado pelo curador, a evolução das roupas femininas, de acordo com cada época. Tem as dondocas do Novo Mundo lá dos idos de outros séculos, as feministas, as mulheres que lutaram pelo direito do voto, as estrelas hollywoodianas cheias de glamour. Essa exposição tambem conta um pouco da história da humanidade através das roupas. Assim como a arte o faz. E, convenhamos, quem é capaz de dizer que certos vestidos do Valentino não são verdadeiras obras de arte?

Continuo sendo contra a adoração desenfreada do "must have". Assim como sou contra qualquer determinação que não seja criticamente pensada pelo indivíduo. Se a Anna Wintour um dia disser que a última moda é usar casaco de pele no verão carioca, posso garantir que vai ter uma galera desidratada por aí, mas se sentindo super in. Eu estarei usando meus shorts e camisetas de sempre, porque simplesmente não sinto a menor necessidade de seguir cegamente esses preceitos. Mas gosto, sim, de comprar uma bolsa bonita, um par de sapatos que tenham o poder, sozinhos, de fazer com que me sinta no topo do mundo. Defendo a liberdade de escolha, mas se alguem escolhe seguir os mandamentos da moda, quem sou eu para julgar? Cada um no seu Manolo.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Não se atrase para o chá!



As vezes me parece que a relação do público cinéfilo intelectualizado com o diretor Tim Burton é de amor ou ódio. Há quem o ache genial em sua excentricidade crônica, e que já vai ao cinema predisposto a achar um novo filme de sua autoria, senão o melhor da carreira, bastante superior ao que tem aparecido por aí no Cinema Hollywoodiano. Há, por outro lado, aqueles que o acham simplesmente um louco que nada de novo tem a acrescentar à arte, e não desperta muita coisa além de preguiça. Embora encaixe-me no primeiro grupo, sei que Burton conta com trunfos que o ajudam em seus sucessos. "Alice no País das Maravilhas" (Alice in Wonderland, 2010) não é o melhor filme de sua carreira. Apesar da história perturbantemente interessante, recheada de belos cenários e boas atuações (fora o furor que o 3D tem causado), ele ainda não chega aos pés de trabalhos como "Os Fantasmas se Divertem" (Beetle Juice, 1988), "Edward Mãos de Tesoura" (Edward Scissorhands, 1990) e "Peixe Grande" (Big Fish, 2003). Burton é, talvez, o diretor moderno mais bem preparado pra contar o clássico de Lewis Carrol, pois parece entender o mundo fantástico criado pelo autor e sentir-se em casa nele, sem apelar para a transmissão de mensagens chatas e valores que pouco interessam ao grande público, sedento por espetáculos.

Johhny Depp, como o Chapeleiro Maluco, faz qualquer crítico de Cinema se repetir. Ele é constantemente bom e, mais uma vez, rouba cada cena na qual aparece. Helena Boham-Carter nos delicia com uma firme e engraçada Rainha de Copas, já Anne Hathaway esteja fraca e piegas em sua flutuante Rainha Branca. Já a protagonista, Mia Wasikowska, é boa e responde bem ao que lhe foi proposto, embora não seja dona de um carisma arrebatador. Para um diretor que consegue não vender seu estilo e estética, Burton parece ter se vendido ao fenômeno do 3D. O filme passaria absolutamente bem sem o recurso, que por vezes parece estar lá mais como uma distração e uma obrigação. É sabido que o diretor não se adaptou ao equipamento usado por James Cameron na filmagem de "Avatar" (2010), e o processo de terceira dimensão foi quase que totalmente feito na pós-produção. As melhores obras de Burton não contavam com tais aparatos e eram absolutamente geniais, pautando-se no que de mais básico o Cinema realmente precisa pautar-se, como atuações, roteiro e fotografia. Além, é claro, da batuta de um grande Mestre.

Ainda assim, "Alice" é, como sempre se pode esperar de Burton, um filme interessante e um ótimo entretenimento, que passa longe de produções insossas e inconsistentes. A maior bilheteria de Disney até o momento promete merecidas indicações aos prêmios mais técnicos do Oscar, como maquiagem e efeitos visuais. E, se a Academia for justa dessa vez, não deixará de premiar Depp, que há muito já deveria possuir um homenzinho de ouro.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Lições de Chico

Faz tempo que não passo por aqui. Eu sei, deixei na mão minha meia dúzia de leitores. Mas peço compreensão. Quando se está filmando um longa-metragem, principalmente na parte da produção, como eu estava, é quase como entrar numa bolha durante semanas e, ao sair dela, descobrir o mundo de novo. Tudo bem, passada essa experiência, cá estou novamente.

Talvez pela primeira vez usarei este espaço para o que, de fato, blogs foram criados: uma espécie de diário virtual. Nunca gostei de ficar escrevendo diretamente sobre minha vida pessoal. Sempre preferi, no entanto, criar crônicas que, de alguma forma, dialogassem com o que eu sentia no momento, sem ter que abrir demais os detalhes. O trabalho do escritor, afinal, que eu tanto valorizo e amo. Além disso, sempre escrevi minhas tão queridas críticas de cinema. Desta vez, vou tentar unir os dois, para contar sobre uma experiência única e inédita em minha vida. E, é claro, absolutamente especial.

Alan Kardek certa vez disse que "o acaso não existe". Sempre flutuei por esta citação, ora acreditando nela, ora não levando muito em consideração. Mas algumas coisas realmente "são pra ser". Maktub, estava escrito. Por isso, afirmo que hoje acredito muito mais nessa frase, pois algo me diz que era pra eu fazer o filme Chico Xavier.

O longa de Daniel Filho entrou na minha vida há um ano. Em abril do ano passado, fui chamada para fazer um teste para uma das personagens. Fiquei muito empolgada com a possibilidade iminente de trabalhar com o Daniel, até então uma figura mítica para mim, que estudei cinema na faculdade e sempre admirei esses grandes nomes. Para mim ele era isso, um grande nome. Além disso, achava bastante atraente a história sobre Chico Xavier. Embora não soubesse muita coisa sobre a doutrina espírita, conhecia por alto a história de Chico, e tinha certeza de que daria um belo roteiro. Acabei não conseguindo o papel. Ele tinha que ir para uma mulher mais velha, que pudesse "envelhecer" até os trinta e poucos anos, uma vez que há uma grande passagem de tempo no filme, e eu com essa carinha de quinze (apesar do peso dos vinte e três nas costas), não convenci. Fiquei um pouco triste, mas estou acostumada com essa vida de atriz desde os seis anos. Bola pra frente.
Fui pra São Paulo em maio, fazer um curso de preparação de atores para cinema e vídeo, durante duas semanas. Meu curso terminava numa sexta, e eu iria embora no sábado seguinte, de volta para o Rio. Na quinta feira a Letícia, uma das produtoras, me ligou. Me disse que haveria um outro teste, para uma outra personagem, e queria saber se eu estaria disponível no dia seguinte a tarde. Não era possível! Mais uma oportunidade para fazer esse filme, e eu a quilômetros de distância do lugar do teste. Expliquei que estava em São Paulo fazendo um curso, e que este terminaria ao meio dia. Eu tentaria ir direto para o aeroporto, pegar o primeiro avião para a Cidade Maravilhosa, a ponto de chegar a tempo para o teste a tarde. Foi o que tentei fazer. Porém, não havia vôos disponíveis e, os que tinham horários oportunos, eram muito caros naquele momento para as minhas condições. Frustrada e com o coração na mão, liguei para ela e disse que não havia conseguido o avião. Perguntei, quase implorando, se não haveria um outro dia para testes, eu iria em qualquer horário! Só precisava mesmo era conseguir sair de São Paulo. Mas não era o caso, o teste seria só na sexta. Eu não conseguia acreditar! Deus colocou no meu caminho duas oportunidades para fazer um grande filme, uma estréia grandiosa como atriz em longa-metragens, e eu não consegui nenhuma delas. Bola pra frente mais uma vez, porém com um gostinho amargo.

Esqueci o filme durante algumas semanas. Logo que voltei pro Rio, fui convidada para fazer uma participação em um seriado da Record, e acabei focando nisso. Mas era pra ser, não é verdade? Coisa de três semanas depois, a Letícia me ligou novamente. Meu coração veio à boca quando ouvi a voz dela. Dessa vez, ela não queria me chamar para nenhum teste. Ela queria era me oferecer uma personagem. Isso mesmo, oferecer! Letícia, com toda sua fofura, tinha um pouco de receio na voz. Ela dizia: "-É uma participação bem pequena, são duas cenas só, não tem nem fala... seria uma das Irmãs Ensandecidas, e nós precisamos de atrizes de verdade para fazê-las. Não dá pra ser figuração, são personagens muito fortes, e que existiram de verdade.". Ela dizia como se eu fosse achar um absurdo não ter falas. Imagina! Eu aceitaria qualquer papel, qualquer personagem que fosse nesse filme. Ainda mais depois que ela me contou a história. Dizem que lá pelos idos de 1940, no interior de Minas, quatro irmãs ficaram possuídas ao mesmo tempo, e a mãe delas as levou no centro do Chico, para que este pudesse cura-las, o que acabou acontecendo. Aquele friozinho na barriga tomou conta de mim, o mesmo que sempre aparece quando vislumbro um grande desafio. Eu não tinha o que pensar. Aceitei no ato. Eu não conseguia acreditar que Deus havia me dado mais uma chance para fazer esse filme! Logo eu, que estava com a fé cambaleante neste momento da minha vida. Naquela noite, eu rezei para Chico Xavier, e agradeci.

Depois de uma semana de preparação de atores, embarquei para Tiradentes. Como se já não fosse surreal o que eu estava indo fazer, ainda tive o prazer de conhecer pessoas como Juliana Bertoni e Thamirys Spyker, duas das minhas irmãs fictícias, e a grande atriz Anja Bittencourt, nossa mãe. Foi juntar o útil ao agradavel. Durante toda viagem de ida, com Debussy, Chopin Tchaikovsky tocando no meu I-Pod e definindo uma fantástica trilha-sonora para uma fantástica experiência, eu rezava e agradecia por aquela oportunidade. Eu não tava nem aí se era uma participação pequena. Para mim era como ter acertado na Mega Sena. Mas o melhor ainda estava por vir.

Nervosa, fui para o primeiro dia de filmagem. Era um sábado, no centro de Tiradentes. Coloquei meu figurino, o maquiador cobriu minhas tatuagens e o cabeleireiro desarrumou meu cabelo, para me dar bem um toque de louca. De repente, a figurinista se aproxima com palmilhas de tênis, meias-calças côr-da-pele e fita crepe nas mãos. Não entendi, mas ela logo explicou. Dando um par para cada uma das "ensandecidas" (assim éramos conhecidas no set), teríamos que fixa-las em nossos pés, pois Daniel nos queria descalças. Depois, eles iram maquiar a fita crepe, deixar da cor da pele, e a meia-calça iria fazer com que as palmilhas ficassem seguras em nossos pés.

Feito isso, fomos para o set. Estava muito nervosa e ansiosa, um misto de emoções que eu nem conseguia explicar. A rua estava cheia, muitos figurantes caracterizados com roupas de época faziam crer que estávamos mesmo nas Gerais do meio do século passado. E no meio da multidão, lá estava ele. Com seu chapéu Panamá, Daniel Filho conversava com Nonato Estrela, o diretor de fotografia, ao lado de um aparato de câmera que eu nunca tinha visto, com meus quatro anos anteriores filmando curtas em cinema independente. Ele vem até nós, nos cumprimenta, e pede uma corda. Agora ele queria que ficássemos amarradas, as quatro irmãs, para aumentar ainda mais a dramaticidade da cena. Prontamente, a equipe de arte arrumou uma corda e nos amarrou.

Começa o ensaio. E mais um ensaio. E mais um. A cena era cheia de referências. Cassio Gabus Mendes, de padre, entoava um discurso contra o espiritismo, figurantes passavam, um carro rasgava a rua ao nosso lado, e nós nos debatíamos, encarnando as personages possuídas pelo o que quer que fosse, enquanto nossa mãe e dois homens tentavam nos arrastar para o centro espírita. Um desses homens era o Julio Uchôa, diretor executivo do filme, que fez uma participação como o "Homem da Bíblia" (devo desculpas ao Julio por alguns socos e pontapés que devo ter dado nele durante a cena). Na hora de, de fato, filmarmos, de tanto que havíamos nos debatido, a corda que roçava em minha cintura, ainda que por cima da roupa, feriu minha pele e deixou hematomas. Alguns lugares, perto das costas, estavam em carne viva. Mas durante a cena, nem mesmo senti. Só fui me dar conta dos machucados quando voltei para o hotel e fui tomar banho, depois de um longo dia. Fui dormir feliz e sem sentir dores.

Segundo dia de filmagem, domingo. A cena era interna, o centro espírita de Chico Xavier. Na noite anterior, antes de dormir, eu havia terminado de ler o livro do Marcel Souto Maior, que deu origem ao roteiro. Estava totalmente inteirada na vida do Chico e, ao chegar no set e ver Angelo Antonio caracterizado como tal, levei um susto. Era muito real, não só a maquiagem e o cabelo, mas a paz que Angelo passava. Nossa cena seria só depois do almoço, e enquanto isso eu papeava alegremente com as atrizes do lado de fora, que a esta altura já haviam se tornado minhas amigas.
Esperamos um bom tempo para gravar. Ainda estava bastante ansiosa, pois esta era a cena mais importante para mim. Enquanto estava na varandinha do lado de fora da casa que servia como cenário, saboreando um de meus Malboro Lights, uma voz surge atrás de mim. "-Eu tenho observado que a senhorita anda fumando muito...Não deveria fumar tanto.". Era o Angelo Antonio, chamando minha atenção, com uma leve preocupação na voz. Quando começamos a conversar, pensei que seria exatamente o tipo de coisa que Chico Xavier me diria, com a mesma serenidade na voz.

Minhas previsões estavam certas, e realmente foi uma cena bastante dificil. Chico (Angelo) rezava com muita força enquanto cada uma de nós, ensandecidas, o tocávamos e zombávamos dele, até que caíamos no chão, desoladas. Nisso, um Chico Xavier cansado e enfraquecido é atingido pelo "Homem da Bíblia", quando Julio Uchôa começa a bater com o Evangelho na cabeça de Angelo. Ser dirigida por Daniel me deu a sensação de estar sendo coordenada por um cara absolutamente profissional, que se sente 100% confortável naquela posição, e que sabe exatamente o que quer e e o que está fazendo. Um diretor, afinal.
A cena foi rápida. Fizemos só uns dois ensaios e filmamos umas duas vezes. E foi aí que o momento mais marcante de toda viagem aconteceu.

Eis que Daniel volta ao set. Ele se posiciona ao lado da mesa do cenário, onde minutos antes Angelo estava sentado. Na frente de todo elenco e equipe, em um set cheio, Daniel diz: "-Eu gostaria de agradecer profundamente essas meninas. Elas são atrizes e aceitaram vir até aqui para fazer essa pequena participação no nosso filme, e eu estou muito satisfeito com o resultado, e sou muito grato a elas.". Do nada, ele começa a bater palmas, e é acompanhado por todos. Em instantes, um set inteiro de elenco e equipe está batendo palmas para nós. Minha emoção foi ao auge e uma vontade profunda de chorar tomou conta do meu peito. Segurei firme, não queria desabar ali. Mas este foi um momento que eu guardei com muito carinho, e jamais esquecerei em toda a minha carreira. Um elogio do Daniel Filho vale mais que um milhão de dólares.

Voltei para o Rio no dia seguinte. Na viagem de volta, fui recordando os momentos. As conversas com a Ju, Thamirys e Anja. Nossa pizza com vinho, depois de um rápido passeio por Tiradentes no último dia. A igrejinha singela que eu achei perto da base de maquiagem, numa ruazinha estreita, e na qual eu entrei depois do último dia de filmagem para agradecer aquela oportunidade. Ela era pequena, mas tinha toda a grandeza das igrejas mineiras, cheia de ouro e valores. Exatamente como a minha participação, pelo menos para mim.
Recordei que, a todo o tempo, eu ficava estudando Daniel no set, tentando sugar o máximo de conhecimento. Para uma roteirista e atriz, que quer trabalhar com direção um dia, aquilo era melhor que qualquer curso. E aprendi que um diretor de verdade é um profissional que exige o melhor de seus atores e de sua equipe, simplesmente porque ele tambem está dando o melhor de si. Alem disso, é um cara que sabe apreciar, elogiar e valorizar cada ponto positivo que cada um proporciona ao trabalho de todos. É um profissional mesmo, na mais pura essência da palavra, que tem total controle sobre o set, sabe a função de cada peça de cada aparato de cada equipamento que está ali. Principalmente, sabe o seu conceito, sua idéia maior, é fiel a eles, e consegue passar isso para cada membro de sua equipe. Ele sabe exatamente o que ele, e todos, estão fazendo ali.
Fiquei lembrando de pequenos prazeres que tão importante foram. O cheiro do caldo-verde do hotel, o doce de leite bem mineiro que comprei na estrada. Os risos das meninas, as bobagens que falamos durante dois dias inteiros. O tanto que aprendi com Daniel, Angelo, e cada membro da equipe com o qual tive contato, mesmo em uma passagem tão rápida. O passeio por Tiradentes, o vinho que nos esquentou naquele frio de junho. E meu I-Pod tocava a mesma trilha sonora da ida.

Um ano depois, fui a pré-estreia, cheia de orgulho, por fazer parte daquela experiência grandiosa do cinema nacional. E foi fantástico ver que aquele trabalho se transformou em um filme muito bonito, que ultrapassa as fronteiras religiosas. Não é um filme espírita, tampouco um filme sobre espíritos. É simplesmente um filme sobre um homem extraordinário, um brasileiro sem igual, que tem muito a nos ensinar, durante anos e anos vindouros.
Lá pelas tantas no filme, tocou Debussy. Tocou Clair de Lune. A mesma música que preencheu minha trilha sonora, a trilha sonora da minha vida, na viagem a Tiradentes. Não era coincidência. Não era o acaso.

Era, porque tinha que ser.


"Embora ninguem possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim". (Chico Xavier)

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

"Desculpe, senhores. Mas não há filme algum."


Odeio odiar musicais. Algumas das mais deliciosas lembranças da minha infância envolvem longas e longas horas, assistindo repetidas vezes a clássicos como Mary Poppins, Singing in the Rain e The Sound of Music, que preenchiam meus sonhos infantis com beleza, candura, esperança. O período de burra escassez de muscais em Hollywood depois do fim da Era de Ouro contou com nomes como Rob Marshall e Baz Luhrmann para que seu fim fosse anunciado, quando corajosamente esses dois diretores entraram nos projetos Chicago e Moulin Rouge, ambos bem sucedidos criticamente e presenteados com prêmios da Academia. Até mesmo o multi-talentoso Kenny Ortega, com seus High School Musicals, teve um papel fundamental em introduzir a cultura dos musicais nas novas gerações.

Assim, estava muito empolgada e ansiosa para ver Nine, o novo musical de Rob Marshall. Com um elenco de estrelas como Nicole Kidman, Penelope Cruz, Sophia Loren, Judi Dench, Kate Hudson, Fergie, Marion Cotillard, e o absurdamente genial Daniel Day-Lewis no papel principal, Nine tinha tudo para ser um estouro. Visualmente impecável, bela fotografia, ótimas atuações, e uma trilha sonora que faz com que seja impossível você não sair do cinema cantando "Be italian" ou "Cinema Italiano", extasiado com a beleza visual desses números, que pulam da grande tela e espancam seus olhos e sentidos, fazendo você querer mais. Além disso, a história de um famoso diretor de cinema italiano, Guido Contini (Day-Lewis), que ao se ver no meio de uma crise de inspiração a dez dias do início de seu mais novo projeto, passa a ser atormentado pelas presenças femininas marcantes em sua vida enquanto tenta escrever uma história, é baseada no filme Fellini 8 1/2, do grandioso Federico Fellini, de 1963. Marion é sua enganada esposa. Penelope é sua quente amante. Sophia (como sempre, preenchendo a tela com toda sua grandeza), é sua falecida mãe. Judi, sua fiel figurinista. Kate, uma impetuosa jornalista de moda. Fergie, uma prostituta que atormentava sua mente quando era menino. E Nicole, sua atriz preferida, sua musa inspiradora. O que poderia, então, dar de errado, em um enredo tão irresistível?

Exatamente aí está o problema. O enredo irresistível está no fato de falarmos sobre ele. Tudo bem que, dizem as mais línguas, 8 1/2 não tinha roteiro. Mas não era de forma gratuita. Existia um motivo conceitual para que isso ocorresse, coerente com a época do filme, a escola à que ele pertencia, e ao próprio diretor. Não é o caso em Nine. Não é possível fazer uma superprodução hollywoodiana sem roteiro. Simplesmente é incabível. E, tirando os números musicais, Nine se resume a uma narrativa arrastada, sem um começo, meio e fim, totalmente descolado do que ele se propunha a ser: um musical de Hollywood. Um musical dirigido por Rob Marshall, o aclamado "novo Bob Fosse". Um musical com alguns dos maiores nomes do cinema atual. A "falta de história", a carência de narrativa sólida, e a simples jornada inssossa de um diretor por um período de seca criativa daria certo em um cinema alternativo. Não consigo, simplesmente, entender por que, volta e meia, algumas pessoas ainda insistem em tentar realizar feitos que, evidentemente, não vão funcionar. Não são passíveis de bons resultados com uma platéia que não espera essas inovações. O que resulta em um espetáculo visual bonito, porém vazio. Um filme que se apóia muito simplesmente em dois ou três números musicais, e em seus grandes nomes, para que alguem prestasse alguma atenção nele. Não é a toa que Nine não conquistou, da maneira esperada, público e crítica. É uma pena, realmente, mas a frase do título desse texto, uma das falas de Guido, é ironicamente resumitiva. Nine não preencheu meus sonhos. Nine me deu sono.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Globo da Solidariedade.


No último domingo, em Los Angeles, aconteceu a edição 2010 dos Golden Globe Awards, conhecido popularmente como uma prévia do Oscar, e vulgarmente por ser o "segundo prêmio mais importante". De qualquer forma, a festa de premiação oferecida pelos membros da Hollywood Foreign Press, que premia os melhores do ano da TV e no Cinema americanos aconteceu, pela primeira vez na história, debaixo de chuva. Os mais superticiosos, ou aqueles que levantam a bandeira "fora yankee", poderiam até mesmo dizer que o acontecimento foi algum tipo de castigo cósmico, uma vez que uma festa de glamour e riqueza como esta, televisionada para o mundo inteiro, esfregando toda a superioridade do Olimpo americano na cara dos meros mortais, seria quase uma afronta, frente aos recentes acontecimentos do Haiti. Bobagem pura. Em momentos de catástrofes como este, fingir que simplesmente não existe gente rica no mundo é tapar o sol com a peneira.
Ver aquelas celebridades intocáveis se enrolarem com guarda chuvas, tentarem não ensopar as barras de seus belos vestidos ao caminharem pelo tapete vermelho, temerem que o penteado caísse com toda aquela umidade, foi até engraçado de ver. A gente realiza que eles nem são tão intocáveis assim. Mas bonito mesmo foi ver gente como George Clooney, Penelope Cruz e Morgan Freeman usarem os holofotes para causas que importam. Mais do que o broche vermelho solidário às vítimas do Haiti, eles divulgaram campanhas de arrecadação de doações para o país. Clooney inclusive está organizando uma espécie de teleton para a próxima sexta, no qual artistas atenderão os telefones, recebendo as doações, enquanto cerca de 17 emissoras televisionam o evento, com direito a shows de artistas do momento, para chamar mais público. Dizem que Madonna doou 250 mil dólares, e que Gisele Bundchen, embaixadora da ONU, doou 1,5 milhão. Durante toda a cerimônia, vários atores e atrizes chamavam atenção dos telespectadores para visitarem o site nbc.com , no qual encontram várias formas de ajudar.
E que continuem falando o que bem entenderem, aqueles que tem por esporte falar mal de gente famosa, rica e influente. Porque verdade seja dita: tem gente fazendo o dever de casa direitinho.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

É o fim de mais um dia tão quente no Rio de Janeiro que tenho minhas dúvidas se não seria possível, literalmente, fritar um ovo no asfalto. E cá estou, enfurnada no meu quarto, com o ar condicionado bem forte para que eu me engane e julgue estar na Sibéria, e o ócio me fez perambular por perfis de orkuts. Em um deles, me deparei com uma frase que já é até mesmo lugar comum em sites de relacionamentos e até mesmo cartõezinhos românticos. É aquela boa e velha citação de O Pequeno Príncipe: "Tu te tornas eternamente responsável pelo que tu cativas.". Sempre desconfiei um pouco dessa afirmação, e minha desconfiança nada tinha a ver com o fato de eu achar esse Pequeno Príncipe um garoto muito do pentelho que mora no topo de um planeta e não tem um tanque de roupa suja pra lavar, por isso pode ficar tendo devaneios idiotas. Mas o que me incomodava nesta frase, que tantas pessoas tomam como verdade incontestável, era o caráter irredutível dela. Como se o sedutor, ou aquele que cativa, não tivesse uma escolha, senão cativar. Isto não é de todo certo, como bem sabemos. Amores platônicos estão aí para comprovar isso, no sentido mais filosófico do termo. Muitas vezes somos cativados por pessoas que não necessariamente pediram por isso. Simplesmente nos apaixonamos, emburrecemos, trocamos as mãos pelos pés. Fantasiamos ilusões idílicas em nossas cabecinhas entorpecidas, criamos histórias nas quais vivemos em um conto de fadas com aquele ser amado, sem nem mesmo saber se o tal ser está a fim de embarcar nesse filme da Disney conosco. Que culpa têm, certas pessoas, de serem, simplesmente, irresistíveis? As vezes elas não precisaram fazer nada demais para nos cativar, apenas existir com suas belezas, sorrisos cativantes, olhares penetrantes que, muitas vezes, nem são para nós. E é aí que a afirmação de Antoine Saint-Exupéry mostra suas falhas. Nem sempre nos tornamos eternamente responsáveis pois, as vezes, não temos muito controle sob aqueles que cativamos. Podemos não fazer a menor questão de que alguem exista em nossa vida, mesmo quando o carisma foi de tal modo incontrolável que passamos a existir intensamente na vida desse alguem.

A coisa muda de figura quando, enfim, há um incentivo. Quando alguem nos cativa por livre e espontânea vontade, quando esse alguem insiste em nos ligar, nos inundar com palavras de carinho, fazer questão de estar presente - fisicamente ou não - em nossas vidas, aí sim esse alguem é inteiramente responsável por nos cativar. Ele quis isso, ele trabalhou para isso. Ele não foi encantador pela sua mera existência, mas escolheu deliberadamente nos encantar, usando todas as suas armas para isso. E como afirma outra passagem do livro (e com esta eu concordo), "a gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixou cativar...", sofremos um tanto quando o "sedutor" resolve pular fora. Por vezes ele faz essa escolha, e outras tantas ele simplesmente age como se nada tivesse jamais ocorrido. Como se fosse somente fantasia nossa, e não a colheita daquilo que ele plantou. É o que eu chamo de jogo sujo, de falta de caráter, e de sacanagem. O que nos resta? Chorar baldes, pintar a caveira, falar mal para os amigos, na tentativa de que aquilo se torne verdade para nós, se repetirmos com frequência.

O que consigo concluir é simples: é preciso ter cuidado com o que se cativa. É preciso saber bem aonde pisamos, o que dizemos e de que forma o fazemos, pois as vezes criamos feridas em outros corações que jamais serão cicatrizadas. Não se pode brincar com os sentimentos de alguem como se eles fossem um daqueles jogos de bolinhas que os equilibristas jogam para cima. É infinitamente mais difícil curar uma mágoa mal resolvida do que uma doença grave. Não há remédios para um coração partido.

Quanto àqueles que nos cativam, sempre fui partidária das paixões desenfreadas, de dar a cara a tapa e ver o que acontece. Continuo o sendo. É preciso, no entanto, prestar atenção se o objeto que nos cativa está, voluntariamente, o fazendo. Se não o está, aconselho terapia. Porém, se foi uma escolha dele criar esse vínculo, viva-o enquanto for possível. E torça para o melhor. Cative e se deixe ser cativado, pois a vida é feita disso, afinal. Mas lembre-se que "é preciso exigir de cada um o que cada um pode dar." Essa é outra citação de O Pequeno Príncipe. E é com ela que eu termino este post.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Primeiro de 2010

Feliz ano novo, queridos leitores deste inóspito blog. Gosto de pensar que vocês existem. Gosto mais ainda de falar assim no plural: vocêS.

Desculpem minha falha, não estou bem para escrever hoje. Estou tão irritada (e mais alguns adjetivos que cabem aqui: decepcionada, cansada, sacaneada, triste, exausta), que se eu escrevesse no calor do momento o que sinto agora, acabaria por falar besteira. Ou falar mais do que devia, algo tão comum para mim. Quando a poeira baixar, escreverei. Ou quando meu coração se acalmar, talvez.

De qualquer forma, achei que deveria dar sinal de vida aqui. 2010 já chegou absurdamente quente no Rio de Janeiro. Entre mergulhos no mar da praia da Barra e longas temporadas no ar-condicionado, comecei o ano fazendo algo que costumava dizer que não faria: um twitter. Ha-ha. Pois é. Twitteira. Aff... Estou cada vez mais perdendo minha dignidade. Mas sabe que é interessante esse negócio? Descobri que posso seguir a Demi Moore, o Ashton Kutcher, a Ellen de Generes e a Oprah.

Para os que se interessarem:
www.twitter.com/ca_pavanelli

Beijosmetwitta.