domingo, 13 de junho de 2010

A Mentira do Dia dos Namorados.

Tá tudo errado. Pra começar, o Valentine's Day, no mundo inteiro, é coerentemente no Dia de São Valentim, em fevereiro. Aqui, em terras tupiniquins, comemora-se dia 12 de Junho. Dizem as más línguas que isso ocorre porque, aqui, nesses tempos invernais, longe das datas festivas (como o nosso Carnaval, que é em fevereiro), as vendas caem, e por isso a data foi modificada, para dar uma aquecida da economia. Concordo que seria o máximo do baixo astral pra várias pessoas ter o dia dos Namorados tão perto do Carnaval, por motivos óbvios. Pessoalmente, nunca fui de me importar muito com o Dia dos Namorados, por uma questão de personalidade. Nem do Natal eu sou tão fã assim.

Mas esse ano, reparei em algo que me intrigou. O Twitter no sábado estava repleto de pessoas que iam comemorar a "Noite dos Solteiros". O lema era: O Dia é dos Namorados, mas a noite é dos solteiros. E várias meninas e meninos saíram do doce conforto quentinho de seus lares para jogarem-se na noite. Nada de anormal ou diferente de um sábado qualquer. A questão era a excitação exacerbada. Por que?

Desculpem-me, mas a verdade pode doer: Nada passa de uma animação mentirosa. Sem perceber, no frenesi de afirmar para si mesmos que está tudo bem, que se bastam, que a vida é bonita numa caminhada solitária, estavam todos comemorando não o fato de estarem solteiros, mas de estarem sozinhos. E ninguem, realmente, gosta de ficar sozinho. O mundo é enorme e minúsculo ao mesmo tempo, e em meio a tantos bilhões de pessoas, todos querem achar seu "special one". A tampa da panela. A metade da laranja. O açucar do brigadeiro. O clichê dos clichês. Porque entre tantas diferenças, somos iguais em uma característica: homens, mulheres, brancos, negros, pardos, heteros, gays, jovens, velhos... todos queremos ser amados. E se o Dia dos Namorados já foi concebido pela sociedade como uma data para se comemorar o fato de que amamos e temos alguem para amar, não se deveria celebrar o contrário. Há, sim, quem adore a vida de solteiro. Mas há uma grande diferença entre ser solteiro, e ser só. Se somos solteiros todos os dias, não há motivo evidente para que se comemore isso justamente no dia que a sociedade inteira escolheu para celebrar o fato de que somos amados, e amamos alguem. Paremos de mentir para nós mesmos e passemos a admitir que não há o que ser celebrado, além do evidente. Não há motivos para se envergonhar por estar sozinho no Dia dos Namorados, muito menos necessidade de mostrar para o mundo inteiro, esbravejar para quem quiser ouvir, que está tudo na mais perfeita ordem, e que você está super bem sem alguem do seu lado. Isso é um problema de cada um, e a vontade de afirmar isso para os outros só denuncia que, talvez, não seja algo tão verdadeiro assim.

Proponho, pois, que passemos a valorizar menos o Dia dos Namorados, tanto solteiros como comprometidos. O amor deve ser celebrado todos os dias, intensamente. Os que ainda não o encontraram, não devem jamais interromper sua busca. Não vale somente um dia para isso. É uma sorte imensa achar o amor verdadeiro, quase como ganhar na loteria, porém melhor. Não vem acompanhado de milhões em dinheiro, mas de uma certeza muito maior e mais valiosa: a de que você vai ter sempre alguem que te olhe como se você fosse a mais rara das pedras preciosas. Que seus braços vão sempre alcançar outros braços no lado oposto da cama. Que alguem gosta da sua cara amassada e de seu mau humor matinal, que atura seus defeitos, que aguenta suas manias e até ri delas...dizendo "ah, isso é tão típico dele(a)!". Que seus pés sempre serão aquecidos por outros pés. E que, ainda que perdido, você vai sempre achar, com muita gratidão, o caminho de casa.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Magia.

Dia desses vi um filme chamado "Broken English". Filmezinho B americano, não tem nem tradução em português. Ainda assim, muito bom. Zoe Cassavetes (sim, a filha do cara), roteirista e escritora, é um talento puro, prova de que a genética faz toda a diferença. Pena que não há muitos trabalhos dela por aí.

O Cinema assume seu intuito maior quando, nos primeiros minutos de uma despretenciosa narrativa, você enxerga uma completa identificação com o enredo, mergulha na estória e a suga, como se sua própria vida dependesse daquilo, como se aquele desfecho representasse o seu próprio futuro, quase uma sessão ficcional de cartomante. Neste caso específico, assim que me toquei dessa identificação, comecei a me preocupar. Nora, a personagem da talentosa Parker Posey, a rainha dos Indies, é uma mulher que possui uma perigosa característica: a incrível capacidade de atrair e/ou se apaixonar pelos homens errados. Aqueles tipos bem mesquinhos, que tão obviamente partirão seu coração. Ainda assim, o dedo podre de Nora insiste em apontar para o cara errado, ainda que o certo esteja bem ao lado do canalha. Ela se lamenta com a melhor amiga, pensa em desistir dos homens, da vida, do universo e de todo o resto. Sofre, chora, se angustia. Faz o que disse que não ia fazer, diz o que achava que não ia dizer. Bebe uma garrafa de vinho sozinha, fuma um maço inteiro de cigarros, e só não come um pote enorme de brigadeiro porque, certamente, não conhece esse doce. Parece similar essa história? Sim, para mim parece.

Se coincidências existem, na noite anterior eu tive uma longa conversa com uma boa amiga que, bem assim, na minha cara, lançou: "Eu acho mesmo é que você gosta de um bom desafio. O cara pra te ganhar tem que ter namorada, tem que morar longe, tem que não te dar moral...Sabe qual é a resposta pra isso? Terapia.". Pois é, mas terapia é caro. Minha alternativa pessoal? Escrever. E, quem sabe, tentar arrumar uma resposta para essa minha mania chata de querer as coisas mais difíceis. Verdade seja dita, não é que eu só me interesse por canalhas comprometidos ou príncipes de terras longínquas. Geralmente, eu só descubro depois que eles são comprometidos, ou me vejo envolvida demais para me importar com algumas centenas de quilômetros de distância. Mas, de alguma maneira, como um ímã estúpido, continuo atraída por esses tipos. Seria mais fácil culpar todos os homens do Universo, mas já passei da idade de acreditar nessa desculpa. Se o problema não está nos outros, está em mim. Talvez seja a necessidade inerente de provar para mim mesma que eu posso conseguir tudo o que eu quero, ainda que tantos obstáculos estejam no caminho. Talvez eu queira me torturar com um chicote imaginário, não enxergando que há um mundo de possibilidades muito mais fáceis bem ali, ao alcance de minhas mãos. Mas o fácil todo mundo tem. Ou medíocre todo mundo consegue. Na minha estupidez, vou levando. Recuso-me a ter que viver junto, simplesmente por não conseguir ficar só. Ou como diz uma personagem do filme: "A maioria das pessoas está com alguem só para não estarem sozinhas. Mas algumas pessoas querem magia. E eu acho que você é uma dessas pessoas.". Nora era, e eu sou.

Enquanto a magia não se personifica em alguem que valha a pena, continuo cruzando os dedos e contando que o meu final feliz seja como o de Nora. Que eu encontre o amor dia desses, num instante qualquer, por aí. Porque magia não precisa ser somente grandiloquentes feitos, serenatas apaixonadas debaixo da janela, beijos na chuva que param o trânsito de uma grande cidade. A magia tambem pode estar no mais simples. Numa fila de supermercado. Numa banca de jornal. No metrô. Na mesa do lado no bar. Num doce balanço à caminho do mar. O segredo é saber ver.