quarta-feira, 9 de junho de 2010

Magia.

Dia desses vi um filme chamado "Broken English". Filmezinho B americano, não tem nem tradução em português. Ainda assim, muito bom. Zoe Cassavetes (sim, a filha do cara), roteirista e escritora, é um talento puro, prova de que a genética faz toda a diferença. Pena que não há muitos trabalhos dela por aí.

O Cinema assume seu intuito maior quando, nos primeiros minutos de uma despretenciosa narrativa, você enxerga uma completa identificação com o enredo, mergulha na estória e a suga, como se sua própria vida dependesse daquilo, como se aquele desfecho representasse o seu próprio futuro, quase uma sessão ficcional de cartomante. Neste caso específico, assim que me toquei dessa identificação, comecei a me preocupar. Nora, a personagem da talentosa Parker Posey, a rainha dos Indies, é uma mulher que possui uma perigosa característica: a incrível capacidade de atrair e/ou se apaixonar pelos homens errados. Aqueles tipos bem mesquinhos, que tão obviamente partirão seu coração. Ainda assim, o dedo podre de Nora insiste em apontar para o cara errado, ainda que o certo esteja bem ao lado do canalha. Ela se lamenta com a melhor amiga, pensa em desistir dos homens, da vida, do universo e de todo o resto. Sofre, chora, se angustia. Faz o que disse que não ia fazer, diz o que achava que não ia dizer. Bebe uma garrafa de vinho sozinha, fuma um maço inteiro de cigarros, e só não come um pote enorme de brigadeiro porque, certamente, não conhece esse doce. Parece similar essa história? Sim, para mim parece.

Se coincidências existem, na noite anterior eu tive uma longa conversa com uma boa amiga que, bem assim, na minha cara, lançou: "Eu acho mesmo é que você gosta de um bom desafio. O cara pra te ganhar tem que ter namorada, tem que morar longe, tem que não te dar moral...Sabe qual é a resposta pra isso? Terapia.". Pois é, mas terapia é caro. Minha alternativa pessoal? Escrever. E, quem sabe, tentar arrumar uma resposta para essa minha mania chata de querer as coisas mais difíceis. Verdade seja dita, não é que eu só me interesse por canalhas comprometidos ou príncipes de terras longínquas. Geralmente, eu só descubro depois que eles são comprometidos, ou me vejo envolvida demais para me importar com algumas centenas de quilômetros de distância. Mas, de alguma maneira, como um ímã estúpido, continuo atraída por esses tipos. Seria mais fácil culpar todos os homens do Universo, mas já passei da idade de acreditar nessa desculpa. Se o problema não está nos outros, está em mim. Talvez seja a necessidade inerente de provar para mim mesma que eu posso conseguir tudo o que eu quero, ainda que tantos obstáculos estejam no caminho. Talvez eu queira me torturar com um chicote imaginário, não enxergando que há um mundo de possibilidades muito mais fáceis bem ali, ao alcance de minhas mãos. Mas o fácil todo mundo tem. Ou medíocre todo mundo consegue. Na minha estupidez, vou levando. Recuso-me a ter que viver junto, simplesmente por não conseguir ficar só. Ou como diz uma personagem do filme: "A maioria das pessoas está com alguem só para não estarem sozinhas. Mas algumas pessoas querem magia. E eu acho que você é uma dessas pessoas.". Nora era, e eu sou.

Enquanto a magia não se personifica em alguem que valha a pena, continuo cruzando os dedos e contando que o meu final feliz seja como o de Nora. Que eu encontre o amor dia desses, num instante qualquer, por aí. Porque magia não precisa ser somente grandiloquentes feitos, serenatas apaixonadas debaixo da janela, beijos na chuva que param o trânsito de uma grande cidade. A magia tambem pode estar no mais simples. Numa fila de supermercado. Numa banca de jornal. No metrô. Na mesa do lado no bar. Num doce balanço à caminho do mar. O segredo é saber ver.