domingo, 17 de maio de 2009

A Volta.

Certa vez, uma pessoa muito sábia me disse que quando viajamos e nos afastamos um pouco de nossas vidas, conseguimos realizar uma coisa ou outra que não nos satisfaz sobre ela, e então, ao voltarmos, estamos mais cientes a atentos para fazer qualquer tipo de conserto. Depois de duas semanas em São Paulo, fazendo um curso que foi, sem dúvida, uma das maiores sacadas que eu tive em tempos e mudou muita coisa na forma que eu trabalho e penso sobre a vida, voltei pro Rio cheia de boas expectativas e com a mente mais clara em relação ao que de fato almejo em minha profissão. E principalmente o que estou fazendo por isso.
Alguem já chegou pra você, querido leitor, enfiou o dedo na sua cara e perguntou:
"-Você está exatamente onde queria estar em sua vida?"
Se ninguem nunca o fez, eu faço agora.
Pense nisso.
E se a resposta for não, pergunto mais:
"-E por que? O que você está fazendo, que caminho você está trilhando, que justifique você não estar exatamente onde gostaria de estar em sua vida?".
O melhor de ser artista é o fato de que ele, seja pintor, músico, escritor, romancista, poeta, cineasta, ator, fotógrafo...é um canal. Um canal para que outras vidas, outras emoções, outras virtudes, outros defeitos, outras histórias sejam passadas e contadas. Para isso, o artista precisa estar sempre atento, e com as emoções à flor da pele. Cada sentimento é, no fim, um aprendizado. Um instrumento de trabalho.

E além disso tudo, mudando radicalmente de assunto, verdade seja dita: nenhuma cidade é a Cidade Maravilhosa. São Paulo tem suas inquestionáveis virtudes: a funcionalidade, a quantidade de oportunidades de trabalho e crescimento profissional, uma variedade maior em opções na vida noturna, fato diretamente proporcional ao tamanho da cidade. É a terra do dinheiro, do trabalho, do enriquecimento. Sim, sei disso tudo.
Mas lá não tem os ares daqui. Não tem o som daqui, o cheiro daqui. Lá não tem moças douradas que andam de short e Havaianas a qualquer hora e em qualquer local, não tem caras de bermudão jogando altinha na beira do mar, que é tão bonito de se ver. Não tem gente de fala arrastada, de gíria malandra, de "s" com som de "x". Não tem a conversa mole, a risada fácil. Não tem o Pão de Açucar te dando boas-vindas quando o avião rasga o céu carioca. Não tem as praias que tem aqui. Tem engarrafamento, mas ao contrário daqui, não é com uma vista para a Baía de Guanabara ou a Lagoa Rodrigo de Freitas. Não tem Ipanema. Não tem o samba da Lapa. Não tem o mar da Barra da Tijuca. Não tem mar, at all. Para se chegar nele, é preciso pegar um carro e viajar algumas horinhas. Ele não está ali na sua cara, o tempo todo, para onde quer que você olhe. Lá não tem pessoas que acordam mais cedo para surfar antes do trabalho. Não tem pôres-do-sol na orla depois do trabalho. Não tem Happy Hour em barzinhos à beira mar. Lá não tem, juntos, em um só lugar, o seu local de trabalho e o lugar onde você passa os feriados. Não tem cheiro de maresia. Não tem a mesma vibração, o mesmo tesão, a mesma energia.
E, no fim das contas, o problema não é de lá. O problema é a delícia que é isso aqui. A minha cidade; que é cheia de problemas e defeitos, mas que é minha, e com a qual eu sou como uma mãe com um filho: eu até posso falar mal dela, mas se alguma terceira pessoa ousar critica-la eu viro bicho.
É o meu Rio. Onde eu nasci e cresci. E de onde eu jamais conseguirei me desgarrar totalmente, não importa para onde a vida me leve. Ele está gravado em mim. Na minha fala, no meu andar, no meu coração e na minha pele.
O que de mais confortável entrou nos meus ouvidos nos últimos tempos foi: "-Senhores passageiros, bem vindos ao Rio de Janeiro."

Estou em casa, enfim.