quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Último de 2009.

Todo fim de ano é a mesma velha história. Somos inundados, voluntaria ou involuntariamente, de mensagens e pensamentos otimistas, estrategicamente planejados para acreditarmos que tudo será melhor no ano que está por vir. Adeus ano velho! No ano que vem vai todo mundo parar de fumar, emagrecer, viajar mais, ser mais tolerante. Vai todo mundo terminar a faculdade, ter coragem para mudar de emprego, achar o amor da vida. Além, muito além das individuais resoluções egoístas, esperamos a paz para o mundo, o fim dos conflitos, o extermínio de tudo aquilo que nos faz mal. Sim, adeus ano velho! Já vai tarde! No fim do ano passado, tínhamos altas expectativas para você, 2009... mas agora seu tempo acabou. 2010 será muito melhor. O futuro sempre será muito melhor.

Todavia, quando fazíamos, com os corações cheios de esperança, nossos planos para esse ano que passou, ainda no fim do ano passado, ainda que tentássemos, não adivinharíamos as tantas coisas que ocorreram nesse atribulado ano. Diríamos que um brasileiro seria o homem mais rápido do mundo nas piscinas, quebrando recordes inimagináveis, como um furacão de talento, disciplina e vitórias? Diríamos que uma desconhecida, pelo simples fato de colocar um micro-vestido cor de rosa e desfilar por uma universidade (quase tão desconhecida quanto ela), viraria capa dos mais importantes jornais e revistas do país? E todas aquelas esperanças que depositamos, e foram por água abaixo... Diríamos que a convenção do clima não daria em nada? Diríamos que bandidos seriam capazes de derrubar helicópteros da polícia carioca? Diríamos que a natureza continuaria a responder de maneira feroz às mudanças climáticas, castigando São Paulo com chuvas que nunca terminam? Diríamos que, do nada, perderíamos ele... o rei do pop, o rei dos reis, o maior dos performers que este mundo já viu? Diríamos que Michael Jackson morreria, dias antes de começar sua última turnê? This is it para o homem que virou mito. Por fim, diríamos que Obama, aquele que veio lá debaixo, cresceu na vida, tem a família perfeita e, enfim, transformaria a América e salvaria o mundo, aquele mesmo Obama carismático e intelectualmente sedutor, enviaria 30 mil soldados a mais para o Afeganistão, pouco tempo depois de ganhar o Nobel da Paz?

Felizmente, 2009 foi mais do que um ano para ficarmos embasbacados com atrocidades. Nossa bandeira carrega os dizeres "Ordem e Progresso", e parece que, enfim, estamos conseguindo começar a fazer jus a essas palavras. Na capa do caderno especial do Jornal O Globo de hoje, vemos a foto de um menininho, morador de uma favela no Rio, brincando com dois policiais militares. Os três sorriam sem perceber que eram fotografados. São policiais de uma das várias Unidades de Polícia Pacificadora do Rio de Janeiro, que começou esse ano a encurralar o tráfico na Cidade e nos fazer ter algum orgulho de nossos protetores. As favelas da Zona Sul já foram tomadas pelos Pacificadores e, ingenuidades a parte, só podemos torcer para que, no ano que vem, todas as favelas do Rio de Janeiro recebam o mesmo tratamento especial. Ainda no mérito da Ordem, a Lei Seca veio com tudo em 2009, e os números não mentem: menos acidentes e mortes no trânsito. Gente de todas as raças, credos e, principalmente, posições sociais e condições financeiras estão perdendo a carteira de motorista se não dançarem conforme a música. Foi o ano da tolerância zero no trânsito, e do resgate à tão desgastada e utópica idéia da nossa dignidade.
O progresso tambem se fez presente. Nosso presidente Lula foi eleito o "homem do ano" pelo jornal francês Le Monde. Assinou alianças e ficou lado a lado com os mais ricos do mundo, liderando os emergentes da América Latina. E como poderíamos esquecer? Neste ano, o Rio de Janeiro foi eleita a cidade-sede das Olimpíadas de 2016, catapultando sua imagem para todo o planeta, pouco tempo depois de ter sido eleita a cidade mais feliz do mundo. A explosão de alegria nas areias de Copacabana, decorrente do anúncio do COI, mostrou que estamos dispostos a mostrar que somos muito, MUITO mais do que tráfico de drogas e estonteante beleza natural. Somos capazes de abrigar o evento mais importante do esporte mundial, e de nos impor frente àqueles que pensam tão pouco de nós.

Sim, foi um ano atribulado. E para mim, uma simples escritora que, mesmo contra a própria vontade, não se furta ao papel de espectadora do mundo de vez em quando, foi um ano de reflexão, e mãos a obra. Alguns sonhos foram realizados, outros apenas postergados...mas jamais esquecidos ou abandonados. Com eles aprendi que, muito mais do que clichê, é realmente verdade: TUDO é possível, basta ter fé e muita determinação. Nesse ano eu me apaixonei e me desencantei, em um processo mais longo do que deveria ter sido, e mais doloroso do que previa, mas que me fez entender que, não importa quantas vezes um coração é partido, ele sempre arruma um jeito de juntar os cacos, levantar a poeira e dar a volta por cima. Que quando amamos de verdade, perdoamos dos mais ínfimos aos mais graves erros de uma pessoa e, acima de tudo, que o simples fato de uma pessoa não nos amar da maneira que gostaríamos, isso não quer dizer que ela não goste da gente. Cabe a nós refletirmos se é assim que queremos ser tratados. Se não, bola pra frente. A vida simplesmente não pára para chorarmos ou nos lamentarmos.

Continuo cheia de expectativas para 2010. A beleza do futuro é a promessa de ele sempre ser melhor do que nossa vida atual. Que haja paz para minha amada cidade e para o mundo. Que os soldados americanos saiam do Afeganistão e voltem para suas casas e suas famílias. Que os líderes mundiais cheguem a um consenso útil e coerente sobre o destino do clima e do planeta. Que acreditemos na utopia de políticos honestos, e sejamos iluminados o suficiente para elegermos governantes capazes de fazer por nós tudo aquilo que esperamos deles. Que se acabem as histórias de dinheiro em cuecas, meias... que se exterminem as propinas e os mensalões. Que sejamos menos idiotas e mais raçudos, mais atuantes. E, por fim, que sejamos hexacampeões mundiais de futebol na Copa na África, para mostrar mesmo quem é que continua mandando aqui.

Um feliz ano novo para todos, repleto de saúde, alegrias e realizações. Que consigamos ter forças para sorrir mesmo nas mais improváveis situações, e que sejam muito poucas aquelas que nos fazem chorar.

Um beijo grande e até 2010,

Cá.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009


O post de hoje é breve. Pretende-se mais uma resposta do que uma crítica. Acontece que, na semana passada, o assunto mais falado por aqui foi o comentário do ator americano Robin Williams no programa Late Show with David Letterman, um dos mais populares do país, a respeito da escolha do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016. Williams complicou-se ao dizer que, embora Chicago tenha enviado Oprah Winfrey e Michelle Obama para apoiarem sua candidatura, perdeu para o Rio, que enviou "cinquenta strippers e meio quilo de pó.". Por isso, algumas pessoas vieram me perguntar como LOGO EU não havia escrito nada sobre isso, xingando Robin de todos os nomes afinal, quem esses americanos pensam que são? Ao contrário da revolta popular, fiquei momentaneamente indignada com o fato, mas depois relevei. Como um cidadão nascido em Chicago, é perfeitamente compreensível a dor de corno do ator, afinal, como pode uma cidade como Chicago perder para uma cidade como o Rio? Chicago é... aah, gente, Chicago! Quem não conhece os mundialmente famosos pontos turísticos de Chicago? Quem nunca citou Chicago como uma das cidades mais belas de todo o mundo? Quem nunca viu nenhum elogio ao povo de Chicago por ser caloroso e acolhedor? Que absurdo, realmente! Afinal, Chicago não tem violência, é o paraíso na Terra... EUA não têm gangues, tampouco traficantes... aquilo tudo que vemos em filme é mera ficção hollywoodiana.
Para analisar criticamente o comentário infeliz do ator, devemos dividi-lo em partes. Quanto às strippers, embora seja uma calúnia e o Brasil não as tenha enviado para a decisão do COI, me admira o fato de que nós, brasileiros, fiquemos tão revoltados com isso. Afinal, adoramos exaltar o nosso carnaval como a maior festa popular do mundo, uma festa onde as mulheres desfilam literalmente nuas, apenas com tinta cobrindo partes de seus corpos. E isso sem mencionar as praias brasileiras, principalmente as cariocas, das quais tanto nos orgulhamos, sempre abarrotadas de mulheres vestindo biquinis minúsculos e rebolando seus corpos bronzeados e morenos, num doce balanço a caminho do mar. Não fez a fama? Agora deita na cama! Já quanto ao meio quilo de pó, isso vou deixar mesmo por conta do Robin Williams, que já passou duas vezes por clínicas de reabilitação, em decorrência de seu vício em cocaína. Logo, acho que o ator deve ter, de fato, alguma autoridade para falar. Deve conhecer bem o pó brasileiro, em suas andanças por aí. O que talvez Williams não tenha realizado é que, ao tentar fazer pouco do Rio de Janeiro, acabou por diminuir simplesmente a mais influente mulher da televisão em todo o mundo e a primeira dama de seu próprio país, ao dizer que nem mulheres desse porte podem vencer strippers de terceiro mundo e "a pound of blow", em suas palavras.
Sou admiradora do trabalho de Robin Williams em seu viés dramático, como em Good Will Hunting e Dead Poets Society, por isso não posso entrar nesse mérito. A razão pela qual nada disse até agora é um pouco mais simples. Com senadores corruptos sendo descobertos em Brasília, com a Cúpula do Clima em Coppenhagen acontecendo e decidindo qual vai ser, literalmente, o futuro do nosso planeta - se teremos verões de 50º daqui a poucos anos, se os oceanos comerão as cidades costeiras, se tsunamis serão mais e mais frequentes - acho que tenho um pouco mais com o que me preocupar, do que com uma reles comentário banal de Robin Williams. Sim, acho que ele não o deveria ter feito, mas de uma pessoa que disse que "Cocaína é a maneira de Deus lhe dizer que você está muito rico", eu espero qualquer coisa.