quarta-feira, 9 de dezembro de 2009


O post de hoje é breve. Pretende-se mais uma resposta do que uma crítica. Acontece que, na semana passada, o assunto mais falado por aqui foi o comentário do ator americano Robin Williams no programa Late Show with David Letterman, um dos mais populares do país, a respeito da escolha do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016. Williams complicou-se ao dizer que, embora Chicago tenha enviado Oprah Winfrey e Michelle Obama para apoiarem sua candidatura, perdeu para o Rio, que enviou "cinquenta strippers e meio quilo de pó.". Por isso, algumas pessoas vieram me perguntar como LOGO EU não havia escrito nada sobre isso, xingando Robin de todos os nomes afinal, quem esses americanos pensam que são? Ao contrário da revolta popular, fiquei momentaneamente indignada com o fato, mas depois relevei. Como um cidadão nascido em Chicago, é perfeitamente compreensível a dor de corno do ator, afinal, como pode uma cidade como Chicago perder para uma cidade como o Rio? Chicago é... aah, gente, Chicago! Quem não conhece os mundialmente famosos pontos turísticos de Chicago? Quem nunca citou Chicago como uma das cidades mais belas de todo o mundo? Quem nunca viu nenhum elogio ao povo de Chicago por ser caloroso e acolhedor? Que absurdo, realmente! Afinal, Chicago não tem violência, é o paraíso na Terra... EUA não têm gangues, tampouco traficantes... aquilo tudo que vemos em filme é mera ficção hollywoodiana.
Para analisar criticamente o comentário infeliz do ator, devemos dividi-lo em partes. Quanto às strippers, embora seja uma calúnia e o Brasil não as tenha enviado para a decisão do COI, me admira o fato de que nós, brasileiros, fiquemos tão revoltados com isso. Afinal, adoramos exaltar o nosso carnaval como a maior festa popular do mundo, uma festa onde as mulheres desfilam literalmente nuas, apenas com tinta cobrindo partes de seus corpos. E isso sem mencionar as praias brasileiras, principalmente as cariocas, das quais tanto nos orgulhamos, sempre abarrotadas de mulheres vestindo biquinis minúsculos e rebolando seus corpos bronzeados e morenos, num doce balanço a caminho do mar. Não fez a fama? Agora deita na cama! Já quanto ao meio quilo de pó, isso vou deixar mesmo por conta do Robin Williams, que já passou duas vezes por clínicas de reabilitação, em decorrência de seu vício em cocaína. Logo, acho que o ator deve ter, de fato, alguma autoridade para falar. Deve conhecer bem o pó brasileiro, em suas andanças por aí. O que talvez Williams não tenha realizado é que, ao tentar fazer pouco do Rio de Janeiro, acabou por diminuir simplesmente a mais influente mulher da televisão em todo o mundo e a primeira dama de seu próprio país, ao dizer que nem mulheres desse porte podem vencer strippers de terceiro mundo e "a pound of blow", em suas palavras.
Sou admiradora do trabalho de Robin Williams em seu viés dramático, como em Good Will Hunting e Dead Poets Society, por isso não posso entrar nesse mérito. A razão pela qual nada disse até agora é um pouco mais simples. Com senadores corruptos sendo descobertos em Brasília, com a Cúpula do Clima em Coppenhagen acontecendo e decidindo qual vai ser, literalmente, o futuro do nosso planeta - se teremos verões de 50º daqui a poucos anos, se os oceanos comerão as cidades costeiras, se tsunamis serão mais e mais frequentes - acho que tenho um pouco mais com o que me preocupar, do que com uma reles comentário banal de Robin Williams. Sim, acho que ele não o deveria ter feito, mas de uma pessoa que disse que "Cocaína é a maneira de Deus lhe dizer que você está muito rico", eu espero qualquer coisa.