quarta-feira, 5 de maio de 2010

Não se atrase para o chá!



As vezes me parece que a relação do público cinéfilo intelectualizado com o diretor Tim Burton é de amor ou ódio. Há quem o ache genial em sua excentricidade crônica, e que já vai ao cinema predisposto a achar um novo filme de sua autoria, senão o melhor da carreira, bastante superior ao que tem aparecido por aí no Cinema Hollywoodiano. Há, por outro lado, aqueles que o acham simplesmente um louco que nada de novo tem a acrescentar à arte, e não desperta muita coisa além de preguiça. Embora encaixe-me no primeiro grupo, sei que Burton conta com trunfos que o ajudam em seus sucessos. "Alice no País das Maravilhas" (Alice in Wonderland, 2010) não é o melhor filme de sua carreira. Apesar da história perturbantemente interessante, recheada de belos cenários e boas atuações (fora o furor que o 3D tem causado), ele ainda não chega aos pés de trabalhos como "Os Fantasmas se Divertem" (Beetle Juice, 1988), "Edward Mãos de Tesoura" (Edward Scissorhands, 1990) e "Peixe Grande" (Big Fish, 2003). Burton é, talvez, o diretor moderno mais bem preparado pra contar o clássico de Lewis Carrol, pois parece entender o mundo fantástico criado pelo autor e sentir-se em casa nele, sem apelar para a transmissão de mensagens chatas e valores que pouco interessam ao grande público, sedento por espetáculos.

Johhny Depp, como o Chapeleiro Maluco, faz qualquer crítico de Cinema se repetir. Ele é constantemente bom e, mais uma vez, rouba cada cena na qual aparece. Helena Boham-Carter nos delicia com uma firme e engraçada Rainha de Copas, já Anne Hathaway esteja fraca e piegas em sua flutuante Rainha Branca. Já a protagonista, Mia Wasikowska, é boa e responde bem ao que lhe foi proposto, embora não seja dona de um carisma arrebatador. Para um diretor que consegue não vender seu estilo e estética, Burton parece ter se vendido ao fenômeno do 3D. O filme passaria absolutamente bem sem o recurso, que por vezes parece estar lá mais como uma distração e uma obrigação. É sabido que o diretor não se adaptou ao equipamento usado por James Cameron na filmagem de "Avatar" (2010), e o processo de terceira dimensão foi quase que totalmente feito na pós-produção. As melhores obras de Burton não contavam com tais aparatos e eram absolutamente geniais, pautando-se no que de mais básico o Cinema realmente precisa pautar-se, como atuações, roteiro e fotografia. Além, é claro, da batuta de um grande Mestre.

Ainda assim, "Alice" é, como sempre se pode esperar de Burton, um filme interessante e um ótimo entretenimento, que passa longe de produções insossas e inconsistentes. A maior bilheteria de Disney até o momento promete merecidas indicações aos prêmios mais técnicos do Oscar, como maquiagem e efeitos visuais. E, se a Academia for justa dessa vez, não deixará de premiar Depp, que há muito já deveria possuir um homenzinho de ouro.