sexta-feira, 27 de março de 2009

Tapa na cara.

Me preocupa o fuzuê que Ele Não Está Tão A Fim De Você (He’s Just Not That Into You, de Ken Kwapis, EUA 2009) tem causado, principalmente junto ao público feminino. Baseado em um Best Seller americano - nada mais do que um livro de auto-ajuda que promete às mulheres o tão esperado entendimento do comportamento masculino - o mesmo chegou aos cinemas com um time de estrelas de primeira grandeza da Hollywood atual, o que, junto com a narrativa melosa e engraçadinha, garante o sucesso de bilheteria. Jennifer Aniston, Ben Affleck, Drew Barrymore, Jennifer Connelly, Scarlett Johansson e a simpática Ginnifer Goodwin, entre outros, têm suas histórias de vida cruzadas, nas aventuras e desventuras de relacionamentos amorosos.
Tendo alguma noção sobre o assunto, uma vez que não passei os últimos quatro anos de minha vida estudando cálculos matemáticos ou fórmulas químicas, posso dizer com uma certa autoridade: Mulheres do meu Brasil, acalmem-se. Isso é SÓ um filme.
Filmes são filmes. Até os que recontam histórias verídicas continuam, indefinidamente, sendo filmes. São obras ficcionais, com fórmulas e facetas narrativas e visuais previamente pensadas para alcançarem um ou outro público, uma ou outra reação. E pra conseguir dinheiro, é claro. Afinal, Cinema, além de arte, é indústria e comércio também. Os personagens, por sua vez, não são pessoas reais. Em um roteiro, eles são construídos de forma que adotem arquétipos bastante específicos, e possam ser mais naturalmente apontados pelo público com personalidades fechadas e peculiares. Já disse isso aqui mesmo no blog, e repito: as pessoas, na vida real, são muito mais complexas do que isso.
Ele Não Está Tão A Fim De Você é pautado em explicações de por quê os homens fazem o que fazem. Porém, embora tudo acabe bem, uma vez que é uma comédia-romântica americana, ele se baseia em afirmações que podem ser interpretadas quase como uma Constituição pelas mentes mais desavisadas. Tudo bem que certas coisas não precisam de muita indagação: Se o cara não te liga é porque, realmente, ele não está a fim de te ligar. Se ele quiser te ligar, quiser te ver, te encontrar, ele vai dar um jeito. Não tem essa de trabalho demais, viagens a negócios aqui, compromissos profissionais ali. Muito menos a ladainha de “não estar pronto para um relacionamento sério” ou “estar com medo de se envolver.”. Sou uma pessoa que tem muitos amigos homens, e de algumas coisas eu simplesmente sei. Em primeiro lugar, homens não pensam como mulheres. Em segundo lugar, quando o cara está realmente a fim da mulher, ele faz acontecer. O tal do orgulho pode até retardar um pouco o processo, mas não o elimina de vez. A grande questão é que não é necessário um livro, ou muito menos um filme, para nos dizer isso. A vida se encarrega de nos ensinar. Se você que está lendo esse texto é mulher e ainda insiste em discutir com isso tudo, você só está se enganando e, mais cedo ou mais tarde, com um ou mil tapas da vida na cara, você vai aprender.
Porém, quando se trata de amor, carinho, paixão ou o nome que for, não existe lógica. Não se trata de aritmética, física quântica, ou muito menos um processo legal, no qual os argumentos são objetivos, retos, racionais. Em matérias do coração, muitas vezes a racionalidade vai por água abaixo, pois como amor não se explica, é comum termos que decidir pautado simplesmente no que sentimos. É subjetivo, irracional, conturbado. O que faz uma pessoa feliz é diferente do que faz a outra, e assim vai. Por isso, não comprem todas as idéias que o filme vende. Encarem-no como uma leve diversão, exatamente o que ele tem que ser – e é. Não pensem que ali estão grandes lições de vida, os segredos da alma masculina e, menos ainda, as regras e as exceções a elas. Não há exceções, simplesmente porque não há regras. O que vale, no fim das contas, é arriscar. E não perder as esperanças ou se deprimir com fórmulas pré-estabelecidas.

Mas ainda assim, não esperem plantadas ao lado do telefone, ou confiram suas caixas de e-mails várias vezes por dia se ele não te procurou. Partam pra outra se o cara começar a dar desculpas demais. Não há nada mais deprimente do que uma mulher que insiste em mentir pra si mesma.

No fim do dia, você vai perceber. Ele não está tão a fim de você.