terça-feira, 31 de março de 2009

"Eu ando sempre pra sentir vontade."

Na primeira vez que a ouvi, no rádio, há alguns meses, de cara essa música me encantou. Era a boa e velha poesia de Marcelo Camelo, da qual tantos fãs, órfãos de Los Hermanos, são constantemente saudosos. Meu espanto veio quando a parte de Camelo acabou e a voz que entrou não me era estranha, mas eu não sabia localiza-la nos cantos recônditos da minha mente. Depois reconheci. Era aquela menina que cantava “If you come over I will say thubaruba...”, que teve mais de um milhão de acessos no My Space... Mas qual era o nome dela mesmo?
Mallu Magalhães, como o locutor me elucidou depois.

Chegando em casa fiz o download, e desde então a ouço sempre. Acho bonita, cheia de propriedade e, acima de tudo, com uma profundidade e um pesar enormes. E a tristeza, assim como a alegria, pode ser belíssima. Por estes motivos, desde que ela entrou por meus ouvidos e em minha vida, me questiono o por quê de seu nome ser “Janta”. Essa palavra, nem nenhuma correlata, aparece vez alguma na letra. Como artista único que é, Camelo bota a galera pra pensar. Talvez por isso cada um tenha uma explicação ou teoria particular. Eu tenho a minha.

“Janta” fala de despedida, de adeus, de abdicar de algo e deixar nas mãos da Vida. Fala da dualidade que, volta e meia, corrói todos nós: a vontade versus a temperança. O “querer” versus o “dever”. E quando não há realmente saída, quando a encruzilhada se forma diante dos olhos, só resta entregar a algo fora de nós, talvez maior, talvez mais etéreo, o nosso próprio destino. Mas ao fazermos isso, ao entregarmos nossa Sorte à Vida, a Deus ou ao que quer que seja, ao nos reservarmos do poder de decidir o que virá, temos, aí, uma gota de esperança. Talvez esse “infinito” possa nos trazer respostas que não conhecemos, possa nos levar a lugares novos e bons, possa escolher para nós uma sina melhor, mais feliz. Assim, consentimos. E a música retrata exatamente esse depósito de esperança no destino, diante da impossibilidade de continuar-se da maneira que está.
Janta, no sentido literal, é isso. O jantar é, através da história, um momento de celebração e, muitas vezes, de despedida. Almoços de casamento ou de aniversário não são tão elegantes, ou têm tanto significado subjetivo, quanto jantares de casamento ou de aniversário. Na Bíblia, a última refeição não foi o café-da-manhã.
A janta tem angústia. Tem ares de finalidade. É na hora do jantar que nos recolhemos para um fim, e a esperança de um começo. O fim de mais um dia. E o começo de um outro, no seguinte. Se ele virá, não sabemos. Esperamos, somente.


Mas de que vale a minha opinião? Eis o poeta, em sua melhor forma:

JANTA
(Marcelo Camelo e Mallu Magalhães)

Eu quis te conhecer
Mas, tenho que aceitar
Caberá ao nosso amor o eterno ou o “não dá”...
Pode ser cruel a eternidade
Eu ando em frente por sentir vontade.

Eu quis te convencer
Mas, chega de insistir
Caberá ao nosso amor o que há de vir...
Pode ser a eternidade má
Caminho em frente pra sentir saudade.

Paper clips and crayons in my bed
Everybody thinks I am sad
I take a ride in melodies and bees and birds
Will hear my words
Will be both us, and you, and them… together.
‘Cause I can forget about myself
Trying to be everybody else
I feel alright then we can go away
And please my day…
I’ll let you stay with me if you surrender.

Eu quis te conhecer
Mas, tenho que aceitar
Caberá ao nosso amor o eterno ou o “não dá”...
Pode ser a eternidade má
Eu ando sempre pra sentir vontade.