sexta-feira, 6 de março de 2009

Entre clichês e saudades.

Uma das frases mais clichês e usadas no Orkut (não gosto do termo “site de relacionamentos...Orkut é Orkut, é besteira mesmo.), é aquela que diz que “quem inventou a distância nunca sentiu saudade.”. E eu sou naturalmente inclinada a um bom clichê, principal e estritamente quando bem colocado.

A saudade é, ela mesma, um assunto que ronda muito do que penso e escrevo. A parte boa dela, inclusive. Porque é gostoso sentir saudades do bichinho de infância que morreu, saudades dos tempos de colégio, saudades daquele amigo que você perdeu o contato pela vida. Saudades de uma festa, de um aniversário, do primeiro beijo, de um presente de natal. Um dos textos que mais gosto sobre saudade é um do Miguel Falabela, que diz que saudade é não saber. Não saber dele, ou dela, e ainda assim doer. É lindo. Google Falabela. É certo!

Mas a saudade que de fato incomoda no peito é a saudade de uma paixão, porque ela acontece, na grande maioria das vezes, quando o fogo de uma das partes apagou, ou diminuiu a chama. E ao outro, só resta a saudade. Não é uma saudade gostosa. É uma saudade que angustia, que dói. É a saudade do sentimento como ele era no início, do tanto de coisas que não chegaram a acontecer e que, mesmo assim, deixaram saudades. É a saudade que sinto agora.

Saudade de quando brincava de princesa, de quando brincava de futuro. De gostar de acreditar em meias palavras, em migalhas de atenção. De botar toda a fé existente em meu coração em algo que em si contradizia todas as regras do famoso “pode dar certo”... mas pra mim dava, fazer o que? Saudades de ter o poder de transformar a distância em somente um número, um coeficiente, uma análise física. Porque no final das contas a distância tem, sim, o excruciante poder de separar dois corpos, mas ela é ínfima na tarefa de separar duas almas. O poeta já dizia: “Eu sei, e você sabe, que a distância não existe.”. Alguem vai discutir com Tom Jobim?

Saudades, também, de me fazer rir com os amigos mais próximos, incrédulos como eu na ironia da minha própria vida, pois me conhecem até mais do que eu mesma. Da impertinência que foi começar tudo como uma brincadeira que tinha data e hora para acabar, mas não acabou. Não era brincadeira de criança, afinal. Um dia, eu acordei...e tudo que eu conseguia pensar era nele. Em todas as horas do dia, em todos os acontecimentos rotineiros. Tudo que eu queria era ouvir a voz, ainda que no telefone. E quando eu percebi que ele era a primeira coisa que eu via de manhã e a última na qual eu pensava ao ir dormir, percebi que não era brincadeira mesmo. Era sério. E, pra mim, bastava.
Era pra sempre.
Saudades de sentir isso tudo, também.

Saudades, ainda, de não ter vivido um monte de coisas boas, de tão rápido que foi. Outro clichê diz que “tudo que é bom passa rápido, mas demora o tempo suficiente para ser inesquecível.”. Concordo com esse, também. Saudade de não ter tido tempo de dançar juntinho aquela que seria, depois, considerada a nossa música. Não ter engatado naquela conversa que invade horas do dia. Não tê-lo levado pra conhecer meus lugares preferidos, para provar o sorvete que eu mais gosto, para ver o pôr-do-sol naquele lugar que só eu conheço. Não ter dito tudo que queria dizer quando ele estava ali, olhando nos meus olhos... nos lugares mais inadequados, pouco propícios ao romantismo, mas ainda assim, ali. E não ter dito não por medo ou receio, mas por não saber absolutamente o que dizer. Em parte porque olhar nos olhos dele é muito melhor e mais bonito do que qualquer poesia, e em parte porque o turbilhão de sensações que entupia minha cabeça e atravessava como flecha a minha pele era tão grande que eu mal conseguia organizar as idéias em minha cabeça.

A saudade, enfim, me faz acreditar em clichês. E citá-los. Porque ela mesma é um clichê ridículo, mal resolvido e estúpido. É um bloqueio, uma interrupção do que quer que seja, tendo interrompido algo ou não. É sentir falta do ponto alto da festa, do mais doce da vida, do sabor mais idílico que se pode experimentar. É a incapacidade de concluir o que se pretende dizer.

Por isso, paro por aqui. Não faço falsas demagogias.
Minha saudade é grande demais, e tem discernimento de menos, para que eu possa concluir qualquer idéia.
Uma crônica, menos ainda.