quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Sobre o mar e o orgulho.

Quem me conhece sabe que morrer de amores não é exatamente o sentimento que eu tenho pelo Rio. Mas se há algo que eu realmente admiro nesta cidade é a capacidade que ela tem de abrigar, pra todos os gostos, a possibilidade de se abstrair dos problemas diários. Dar um mergulho no mar no meio do dia, tomar um chopp com os amigos no fim dele, pegar um cinema no meio da semana. Okay, talvez essa seja uma característica de qualquer cidade grande e cheia, mas fato é que, no Rio, um lugar que, para onde quer que você olhe é um cartão postal, essas escapadas se tornam mais (sensorialmente) agradáveis. O problema é quando se chega em casa e o que está te aguardando é a tal da realidade que insiste em jogar na sua cara que a sua vida não é feita de água de côco e Pão de Açúcar. Há certas coisas que nem o pôr do sol no Arpoador consegue esconder ou curar (e acreditem em mim, quem já viu sabe do que eu estou falando.).
O verão desse ano no Rio não tem sido particular somente pela aparição esporádica e festejada do sol no céu, como se ele tivesse cansado do clichê de proporcionar sempre dias lindos e resolveu dar uma descansada nessa estação. Ele tem sido ímpar também, pelo menos na minha vida, pela quantidade de rompimentos em relacionamentos que eu tenho presenciado. Ultimamente, uma das coisas que eu mais tenho feito tem sido brincar de psicóloga com os meus amigos recém praticantes da dor de cotovelo, cuspindo regras e conceitos como se eu tivesse alguma noção do assunto. Acima de tudo, tenho tentado entender como acontecem as mudanças radicais na personalidade de uma pessoa marcadas pelo momento do “não está dando mais.”. O que antes era eterno, virou passado enterrado. E é nesse momento que surge, ou ressurge, nunca se sabe, aquela característica que provavelmente está intrínseca em todo ser humano, mas que vem à tona principalmente em momentos como esse: o tal o orgulho.
Nessa noite, eu me peguei pensando sobre o orgulho. Todas as pessoas são, em diferentes níveis, orgulhosas? O nível do orgulho é diretamente proporcional à quantidade de feridas que uma pessoa acumulou durante a vida? Ser minimamente orgulhoso é necessário? Em matéria de relacionamentos, em que momento o excesso de orgulho se confunde com a arrogância, e a escassez dele, com a humilhação?
Um amigo meu certa vez me disse que, se um dia ele passasse por cima do seu orgulho por uma mulher seria uma tremenda declaração de amor, como se esse ato fosse quase um crime e o orgulho fosse uma característica positiva que ele não ousaria largar de mão, como ser bom caráter, por exemplo. Para ele, como para muitos outros homens, o orgulho é ao mesmo tempo um refúgio dentro deles e uma capa que eles usam para evitar que algo, ou alguém, ensaie revelar para o mundo inteiro essa "fraqueza" deles. Me pergunto o quanto uma pessoa perde ao ser orgulhosa em excesso. O tanto de coisas que ela poderia fazer ou dizer a alguém se não fosse o medo de se revelar. Eu sei que, em muitos momentos, uma pitada de orgulho é sinônimo de amor próprio, e demonstrar o que se sente não quer dizer se humilhar para quem não merece. O grande desafio, talvez, seja encarar o orgulho como se fosse uma alavanca vermelha, e se soubesse exatamente a hora de aciona-la, ou não. Afinal, a certeza que se tem ao jogar os dados pra saber no que vai dar é que, inevitavelmente, vai dar alguma coisa. Se nos fecharmos sempre dentro de nós mesmos, se deixarmos o orgulho exacerbado criar raízes e tomar força em nós, talvez nunca iremos experimentar emoções diferentes, nunca teremos desilusões para com as quais aprender a viver e, acima de tudo, estaremos nos privando da possibilidade de surpresas muito boas, reviravoltas prazerosas acontecerem. Seria mais fácil se essa tal dessa alavanca vermelha estivesse a venda em lojas, do lado dos livros de auto-ajuda. Eu certamente compraria umas quinze delas, só pra ter em estoque. Mas convenhamos, eu já vivo em um lugar no qual eu posso, a qualquer momento, correr pra orla, sentar em um banquinho de praia e não pagar para ficar quantos momentos eu quiser olhando um infinito de beleza que é esse mar-azul-perolado da minha cidade, até me perder – e perder – os pensamentos. Facilidade demais enjoa. Sinceramente.