segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Te amarei para sempre, ou até que você suma de novo.


Quem me conhece minimamente, ou pelo menos quem se dá ao trabalho de ler esse blog com alguma frequência, sabe que eu sou caidinha por Hollywood. Uma vergonha para os estudantes de Cinema do Brasil, eu sei! Porém, como não sou mais uma estudante, tampouco me formei em Cinema, e sim em Comunicação Social (embora tenha me habilitado em Cinema), posso me dar ao luxo de flertar com esse incrível e insosso cinema pipoca de massa sem correr o risco de ser enxotada para algum tipo de exílio intelectual virtual (não que eu, exatamente, me importasse com isso em outros tempos).

Mas não estou aqui para elogiar, não dessa vez. Uma das várias indiscutíveis facetas hollywoodianas é a capacidade de nos fazer debulhar em lágrimas com historinhas água-com-açucar. Pelo menos, comigo isso sempre acontece. Tem dias que me bate uma solidão tão profunda que eu sei que somente uma coisa em todo o mundo pode remediar a minha dor: o cinema. E lá que eu me abrigo, naquela sala escura, circundada por completos estranhos que não me vêem, não me enxergam, não se importam comigo. Escolho a dedo um filme bem dramático, uma tragédia, uma história de superação ou um romance mela-cueca que eu sei que, sem dúvidas, vai fazer com que as lágrimas brotem sem o menor esforço, e sairei de lá revigorada.

Foi isso o que procurei ao assistir "Te Amarei Para Sempre" (The Time Traveler's Wife, de Robert Schwentke), mas meu intuito foi por água abaixo. Uma história sobre uma mulher que se apaixona por um homem que, por sua vez, possui a condição (ou a maldição) de viajar no tempo sem que ele tenha o menor controle sobre isso, o que a faz sofrer com as repentinas ausências de seu amado... fato que era garantia para uma boa dose de emoção falsificada. Não aconteceu.
Para começar, o protagonista Eric Bana (ele mesmo, o "Incrível" Hulk), não tem carisma algum na tela, e em vários momentos parece um tiozão mais velho de Rachel McAdams, a tal esposa. Ela sim, é absolutamente encantadora, e tem o par de olhos mais significativos dessa nova geração de atores americanos. Entretanto, em vários momentos, a narrativa é confusa, e o espectador passa mais tempo tentando entender se, afinal, o personagem de Eric vai do presente para o passado, do presente para o futuro ou se, no final das contas, ele vive no futuro e somente volta no tempo, e por que ele lembra de alguns eventos que ele viu em outros tempos e não se lembra de outros, do que de fato tentando se envolver na história. Eis aqui a minha crítica, que talvez seja, inclusive, criticada por muitos: um dos méritos de Hollywood é o de fazer histórias sobre as quais não precisamos pensar muito, somente nos deixar envolver, sonhar, querer aquilo em nossas próprias vidas e, ao final, consumir! "Te Amarei Para Sempre" é baseado no livro homônimo de Audrey Niffenegger, o qual eu não li, mas suspeito que seja melhor narrado do que o roteiro adaptado de Bruce Joel Rubin.

Fui embora do Cinema com meu objetivo de debulhar-me em lágrimas completamente fracassado. Porém, ao chegar em casa, não pude furtar-me a pensar sobre o enredo principal do filme, e que vem a ser um dos meus assuntos principais, nos textos que escrevo e na vida: o tempo. Em algum momento da vida, todos pensamos como seria ótimo poder viajar no tempo. Assim, poderíamos reviver momentos felizes, brincar novamente com aquele nosso cachorrinho que morreu, matar saudades de tempos vividos, e até mesmo rirmos da nossa própria coragem por ter feito "aquele" corte de cabelo. Assim como seria possível, em nossos devaneios, voltar ao passado, tambem poderíamos viajar para o futuro, caso essa condição/maldição do personagem de Bana no filme realmente existisse. Dessa forma, veríamos como seríamos mais velhos, quais seriam os rostos dos nossos filhos, em que momento de nossas carreiras estaríamos em 5 ou 10 anos. Poderíamos, inclusive, começar a tomar cuidado ao tomar sol, a parar de comer besteiras, a realmente visitar o cardiologista uma vez por ano. Seria incrível ter esse controle de nossas próprias vidas, não seria?

Não, cheguei a conclusão de que não seria. Se pudéssemos voltar ao passado e reviver, ou rever, algumas situações, teríamos, então, o poder de mudá-las? Se pudéssemos, acabaríamos por mexer na ordem maior do tempo, no livre arbítrio das outras pessoas e nos tornaríamos, então, Deus. E isso seria catastrófico, pois imagine se mais de uma pessoa pudesse voltar no tempo e modificar um mesmo evento, de acordo com suas vontades pessoais? Verdadeiras guerras poderiam acontecer! No caso do filme, o personagem de Eric não podia modificar aquelas coisas que ele via no passado. Supondo que isso fosse possível na vida real, imagine que dor excruciante seria ter que rever aquele ente tão querido morrer, sem nada poder fazer para salvá-lo? Ou assistir o amor da sua vida indo embora sem que você pudesse chamá-lo para dizer "Não vai, não... fica comigo! Foi um erro não ficarmos juntos, você vai ver lá na frente!".
Mais grave, ao meu ver, seria a possibilidade de vermos o que aconteceria no nosso futuro, caso ele fosse realmente um caminho reto, sobre o qual não temos a menor escolha. E se víssemos que aquela faculdade que estamos fazendo não vai dar em nada, pois jamais seremos bem sucedidos naquela profissão? E se estivéssemos a um dia do nosso casamento com aquela pessoa mais especial do mundo, e descobríssemos que nos divorciaríamos em dois anos? E se contraíssemos uma doença sem cura, ficássemos irremediavelmente infelizes? É claro que todos gostaríamos de ver que nossas vidas futuras seriam um mar de rosas, mas e se não fosse assim? De tudo isso, o mais instigante é: se pudéssemos, de fato, ver o que aconteceria em nossas vidas, mudaríamos nossas escolhas? Mudaríamos de faculdade? Cancelaríamos o casamento? Pararíamos de fumar? E se não pudéssemos mudar, estaríamos para sempre condenados e fadados a escolhas fracassadas que nos levariam, por fim, a vida que não sonhamos?

Para todas essas perguntas, a única conclusão que consigo chegar é a de que existe, realmente, um motivo para a ordem natural das coisas ser do jeito que ela é. E esse filme só reforçou dois verdadeiros dogmas que tenho em minha vida: o primeiro, é tentar ao máximo aproveitar cada momento, cada dia, pois ele realmente não volta mais, nunca mais. Não me rendo, aqui, ao clichê do carpe diem e da "vida louca, vida breve", como muitos jovens gostam de clamar, mas me refiro a sincera experiência de aprendizado diário, e tentativa de proveito máximo. O segundo é minha completa descrença em cartomantes e fortune-tellers em geral, pelo simples fato de que, se pudéssemos saber o que vai acontecer em nossas vidas, teríamos um controle que não nos convém, e abriríamos mão de um dos nossos maiores bens: o livre-arbítrio. Além disso, estaria assumindo que a vida é, realmente, uma estrada traçada, o que muitos chamam de destino, e não um caminho que trilhamos com as nossas escolhas, certas ou erradas, mas sempre proveitosas, de alguma forma.

O poder de inverter a ordem do Tempo, esse grande Tempo que tanto me atormenta, só é possível por meio da deliciosa magia do Cinema.
Ainda bem.