segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Dizem que o tempo cura tudo. Falácia dos tempos, doce ilusão dos corações esperançosos por uma rendição, ingênua certeza no poder dos dias. O tempo não cura nada, ele somente mascara um sentimento que, sozinho, se cansa de existir. Os dias passam, os meses passam, até os anos passam, e novas preocupações e problemas surgem pelo caminho, tomando lugar de outros, já velhos conhecidos. É como uma ferida. Com o tempo, nos acostumamos e ela para de doer, momentaneamente. Por vezes até esquecemos que ela estava ali. Mas se batemos aquele local ferido em algum lugar, se derramamos sem querer alguma coisa nele, a ferida volta a doer. E aquela dor vem com tudo, impiedosamente nos lembrando da tortura que era senti-la antes. Assim como o tempo nada cura, são também falaciosas aquelas teorias populares que insistem em afirmar que, para curar uma paixão, só com outra. Ou que um novo corte de cabelo é capaz de superar desilusões, como se elas fossem embora junto com as madeixas. Ou até mesmo que um bom porre, ou uma enorme panela de brigadeiro, têm o poder de curar dores de cotovelo. Eles nada fazem além de nos fazer engordar e, quando se passa o efeito anestésico, sentirmos que não havia absolutamente nenhum motivo prático para aquilo.
Assim, se um dia você se machucou, ou se alguem te machucou, pode estar certo de que você pode até superar este confronto interno, amenizar esta situação quando outras tantas mágoas aparecerem, e viver bem - com sorte, muito bem - com isso. Vence-se a batalha, porém nunca a guerra. Como um vírus da gripe que nunca sai do seu organismo, e em qualquer recaída da sua saúde, qualquer momento de imunidade baixa, ele ataca novamente. Não é uma questão de perdão, mas de memória.
Viva com suas mágoas e suas dores, tente encará-las como cicatrizes, ou até mesmo belas tatuagens gravadas na sua pele, que preenchem seu corpo e contam a sua história, afinal elas são, também, parte da sua vida, e te fazem quem você é. Acima de tudo, procure fazer o seu melhor para não machucar ninguem, pois aquela pessoa tambem terá que lidar com isso para sempre. Porém, não se iluda, não se engane e não se prenda à esperança de que o tempo vai, por si só, fazer desaparecer tudo aquilo que te corrói hoje. Mas não se desespere! Não se prenda em uma bolha, não desista de interagir com as pessoas, não tenha medo de se arriscar em paixões e loucuras. A dor é física, e ela pode ser boa. Ela é a evidência amarga, porém profícua, de que ainda sentimos algo.