terça-feira, 29 de abril de 2008

(mais uma) Sobre o tempo (que foi.)

Me peguei hoje em um momento de saudosismo em relação à minha adolescência. Nostalgia braba. Talvez por ter passado ontem na frente do meu antigo colégio, no qual tive deliciosas e perturbadoras experiências no ensino médio, que me valeram um tanto. Fiquei pensando como era boa essa época de colégio. Como eu aprendi infinitamente mais do que o que os professores, em sua maioria queridos de verdade, escreviam no quadro negro e eu tinha que aprender, me interessando ou não. Como foi uma época importante para a formação concreta das bases do meu caráter e da minha personalidade de hoje, seja lá o que isso signifique. E, principalmente, como era bom ter como maior preocupação a prova bimestral ou a aprovação no fim do ano. Hoje me pego uma faculdade inteira depois dessa que parecia outra vida. Aquela menina de uniforme azul e cabelos ainda não loiros não é nem de longe quem eu sou hoje, mas era certamente o cerne disso. A origem de tudo. Não sei se isso é necessariamente melhor ou pior, porque não sei até que ponto a perda da inocência é, de fato, enriquecedora. É tão bom, de vez em quando, ser inocente e achar que o mundo é feito de pessoas boas, que o amor só rima com dor por acaso e que as nuvens são feitas de algodão doce. Não o são, mas a gente aprende a lidar. Naquela época eu achava que tinha que ter todas as respostas do mundo. Que tudo estava ao meu alcance, poderia e deveria ser respondido. Hoje, eu até gosto do fato de não ter praticamente resposta alguma, somente cada vez mais perguntas. Mais do que isso, já me conformei com o fato de que, infelizmente, nem tudo está ao meu alcance. Eu não posso tudo, eu não sei tudo. E, certamente, isso não vale só para mim. Por mais intensa que seja a nossa vontade, é simplesmente impossível que a vida seja exatamente da maneira que nós planejamos. Nem sempre conseguimos fazer quem amamos retribuir o nosso amor, salvar a vida de alguém querido, consertar o que fizemos de errado, por mais que isso nos doa. E aceitando isso, procuramos, tão somente, fazer o nosso melhor, e dormir um sono tranquilo à noite. Em minhas incansáveis andanças por esse mundinho, conhecendo e desconhecendo pessoas, aprendi algumas coisas; é bom saber e querer estar sempre aprendendo, acho que é esse um dos grandes baratos da vida. No fim, o que você leva de herança nada mais é do que bagagem pessoal, aquilo que você viveu, e o quanto você viveu daquilo. Assim, ouvi dizer que é possível, sim, crescer. Só ainda não conheci ninguém que tenha alcançado isso em sua forma mais plena. Crescer é amadurecer? Amadurecer é perder a inocência? Perder a inocência é deixar de acreditar na beleza daquilo que nos cerca? Como dito, não sei as respostas para estas, e para mais tantas outras perguntas. No fundo, considero, sim, que eu cresci e tenho crescido, mas a tal menina do uniforme azul nunca saiu totalmente de dentro de mim. E, sinceramente, espero nunca perde-la de vez, em algum espaço ou tempo. Nesta época, nesses remotos tempos que parecem tão longe e inalcançáveis quanto uma eternidade, mas que ao mesmo tempo nunca estiveram tão próximos, essa menina leu um dos livros da sua vida: A Insustentável Leveza do Ser. Com ele, ela aprendeu a transformar o peso do fardo que cada um carregamos nas costas na leveza de uma pena. Há quem diga que ela se enganou, e vive se enganando. Mas, para quem trabalha com a fantasia, talvez isso não seja um problema tão grande. A única resposta que consegui obter por meio de mil e uma teorias concebidas no interior da minha mente irritantemente fértil é que o ato de crescer começa quando se aceita que não há ensaios na vida. Para a perfeição de acontecimentos temos a arte, que pode ser ensaiada e refeita até atingir o grau de excelêcia. Na vida real, no hoje, é matar ou morrer. É arriscar ou abdicar da experiência. É aceitar que não se é feliz o tempo todo, mas que se tem momentos de felicidade, enfim. E, então, é saber fazer desses breves, fugazes e desconcertantes momentos de felicidade, a plenitude da própria vida.