domingo, 16 de março de 2008

Promessa de vida no meu coração.

As águas de março chegaram para fechar mais um verão da Cidade Maravilhosa. Neste fim de semana, uma chuvinha ininterrupta caiu sobre a cidade, fazendo os cariocas guardarem as roupas de praia na gaveta e, pela primeira vez em um bom tempo, tirarem os casacos do armário. Mais um verão se foi, como outros 21 verões em minha vida, e eu me questiono o que mais essa estação levou de mim além de mais um pedaço dessa juventude que cisma em persistir. Não consigo pensar em nada de significativo o suficiente que tenha ficado no passado junto ao sol e ao sal, apenas o novo que a nova estação tem me trazido. Entra ano e sai ano e a rotina nunca é a mesma, e nem poderia ser. Por mais que freqüentemos os mesmos lugares, façamos as mesmas atividades todos os dias, tudo muda...tudo mesmo. As pessoas que passam por nós nas ruas não são as mesmas, as cenas que vemos pelas janelas dos ônibus e carros são novas a cada dia, e há sempre personagens entrando e saindo de nossas vidas. Uma estação nova chegou trazendo a velha-nova rotina não só para mim, mas para todos que me cercam. Pelo menos é o que tenho observado nessa minha incontrolável mania de achar que consigo estudar pessoas por meio de suas atitudes, gestos, atos, olhares. O emprego e o chefe chato estão sempre lá, mas a cada dia há uma situação nova com as quais temos que lidar, o que nem sempre é fácil, mas a gente vai levando. A busca pelo amor de nossas vidas, se é que há mesmo um só (ou, mais ainda, pelo menos um) amor em nossas vidas se repete e não pára, sempre com um novo personagem, uma nova dramatização e, é claro, um novo drama. Os dias, as noites, os momentos, todos eles vão passando e são sempre novidade no nosso bom e velho dia-a-dia. Se aceitamos que as estações passam, se aceitamos guardar as lembranças do verão no conforto das fotos de nossas máquinas digitais, se aceitamos trocar as roupas leves pelas pesadas que o frio pede, por que muitas vezes relutamos em aceitar o que mais passa em nossas vidas? Talvez porque não percebamos que, como as estações, é preciso que tudo passe para que haja renovação, mas ao mesmo tempo, que nada passa em definitivo. Ficam mais do que os sorrisos e bronzeados das fotos. Ficam mais do que as lembranças das boas farras de verão. Ficam mais do que o emprego, o chefe chato, mais um amor que nos deixou. Ficam as lembranças eternas, e o impacto que as causas delas tiveram sobre nós. Porque a verdade é que somos, sim, um somatório de tudo aquilo que vivemos, conhecemos, vemos, experimentamos, amamos, deixamos para trás. E em uma cidade como o Rio de Janeiro, o verão é muito mais do que um pedaço do ano. Daqui a pouco a chuva e o frio percebem que aqui não é o lugar que mais combina com eles, e o sol reaparece em pleno outono carioca, voltando a conferir cor e energia à cidade. E assim vamos levando, porque o que nos conforta é saber que o clichê não só existe como é real: não importa o que passe e o que fique, aquilo e aqueles que amamos jamais passarão por completo. Eles ficarão, eternos, nas lembranças, nas marcas na pele, nas conversas, nas fotos e, se tivermos um pouquinho de sorte, dentro dos nossos corações.